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O presidente venezuelano Nicolás Maduro acusou nesta quarta-feira (23) os Estados Unidos de dirigirem uma operação para impor um golpe de estado, horas depois de o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, ter se declarado presidente interino do país.
Os EUA foram o primeiro país a reconhecer Guaidó como presidente interino — o Brasil também o fez. Na terça-feira, Maduro já havia ameaçado rever a relação com os americanos após a divulgação de um vídeo do vice-presidente Mike Pence dirigido ao povo venezuelano.
Maduro se pronunciou na sacada do Palácio Miraflores, onde anunciou o rompimento de relações diplomáticas e políticas com os Estados Unidos, e disse que os diplomatas norte-americanos têm 72 horas para deixar a Venezuela.
“Temos denunciado o governo imperialista dos EUA, que dirige uma operação para impor um golpe de estado na Venezuela. Pretende eleger e designar o presidente da Venezuela por vias não constitucionais”, acusou.
“Estamos aqui pelo voto do povo. Só as pessoas colocam e só as pessoas removem”, disse ainda Maduro, que acusou a oposição de tentar um golpe. “Pode um ‘qualquer’ se declarar presidente ou é o povo que elege o presidente?”, questionou.
“Somos maioria, somos alegria, somos o povo de Hugo Chávez”, bradou.
“Aqui não se rende ninguém, aqui não foge ninguém. Aqui vamos à carga. Aqui vamos ao combate. E aqui vamos à vitória da paz, da vida, da democracia”, disse ainda.
Maduro afirmou também que os órgãos de Justiça venezuelanos devem se apegar às leis contra Guaidó.
“Cabe aos órgãos da Justiça agirem de acordo com a lei e os códigos venezuelanos, e isso é uma questão de justiça, para preservar o Estado, a ordem democrática e a lei venezuelana”.
Além disso, apelou às Forças Armadas por lealdade e disciplina: “Leais sempre, traidores nunca”.
Comparação com golpe de 2002
Em sua fala, Maduro também comparou o juramento de Juan Guaidó como presidente interino com o de Pedro Carmona, na tentativa de golpe de Estado de 2002 contra Chávez. Naquela ocasião, o empresário ficou menos de 48 horas no poder antes de militares reconduzirem Chávez ao cargo.
Após o término do discurso, o presidente da Assembleia Constituinte, Diosdado Cabello, que estava ao lado de Maduro, convocou uma vigília de apoiadores do presidente, no Palácio Miraflores, sede da presidência.
Apoio americano
Assim que Guaidó se declarou presidente interino, o presidente americano Donald Trump disse que usaria “todo o peso do poder econômico e diplomático dos Estados Unidos para pressionar pela restauração da democracia venezuelana” e encorajou outros governos do hemisfério ocidental a também reconhecerem o oposicionista.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu a Maduro que renuncie à presidência da Venezuela devido à presença de um novo “líder legítimo que reflete a vontade do povo”, em referência a Guaidó.
“O povo venezuelano já sofreu durante muito tempo a desastrosa ditadura de Nicolás Maduro. Cobramos que Maduro dê um passo para o lado em favor de um líder legítimo que reflete a vontade do povo”, disse Pompeo, em comunicado.
Além disso, o chefe da diplomacia americana declarou que o governo dos EUA “está disposto a prestar assistência humanitária ao povo da Venezuela conforme as condições permitirem”, uma possibilidade considerada por Maduro e apoiadores como uma agressão.
Mandato contestado
Maduro tomou posse de seu segundo mandato presidencial no último dia 10. Poucos dias depois, a Assembleia Nacional o declarou um “usurpador” do cargo de presidente. Em seguida, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ, que é governista) considerou “nulos” todos os atos aprovados pelo Parlamento.
A oposição venezuelana e diversos países – entre eles Brasil, Estados Unidos, Canadá e os membros do Grupo de Lima – não reconhecem a legitimidade do novo mandato de Maduro, que vai até 2025. A Organização dos Estados Americanos (OEA) também declarou, no dia da posse, que não reconhece mais o governo bolivariano.
Na madrugada desta quarta, horas antes das manifestações programadas, foram registrados protestos em 63 pontos de Caracas. Quatro pessoas morreram.
OPINIÃO - 22/11/2024