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Escritora Clarice Lispector faria cem anos nesta quinta-feira

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publicado em 10/12/2020 às 08h44
atualizado em 10/12/2020 às 07h21

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Nesta quinta-feira, a Universidade de Princeton (Princeton University, instituição particular de pesquisas, em Princeton, Nova Jersey) celebrará os cem anos de Clarice Lispector, com uma conferência ao vivo pela internet.

O evento, organizado pela Brazil Lab, núcleo dedicado a estudos luso-afro-brasileiros na instituição americana, abrirá com o encontro entre Marília Librandi e Paulo Gurgel Valente, filho da escritora.

Entre os destaques da programação está a mesa sobre tradução, que conta com a presença de Katrina Dodson, premiada tradutora de “Todos os contos”, de Clarice, para o inglês.

Em novembro passado, dia 25, aconteceu na Princeton University, o show “Agora Clarice”, com Beatriz Azevedo e Moreno Veloso, acompanhados por Jaques Morelenbaum, no violoncelo, e Marcelo Costa, na percussão.

Livros relançados

Uma série de eventos está programada para celebrar a data. A editora Rocco, responsável pela publicação de sua obra, já deu início às comemorações com a reedição dos três primeiros romances da escritora, escritos na década de 1940, quando Clarice não havia completado ainda 30 anos; são eles: “Perto do coração selvagem, O lustre e A cidade sitiada”. O restante de sua obra completa será toda reeditada até o fim do ano que vem.

O projeto gráfico é assinado por Victor Burton, premiado designer de livros. As capas são ilustradas por imagens de pinturas de Clarice feitas, a maioria, em 1975.

A relação da escritora com as artes plásticas não pretendeu ser mais do que um passatempo ampliador de seus processos criativos; sua produção, apesar disso, soma 22 quadros – dois deles pertencentes ao acervo do Instituto Moreira Salles – e ganhou uma detida reflexão do crítico português Carlos Mendes de Sousa, no livro “Clarice Lispector: pinturas”, também editado pela Rocco.

As novas edições também trazem posfácios inéditos, escritos por especialistas na obra de Clarice, como Nádia Gotlib, Clarisse Fukelman, Benjamin Moser, Aparecida Maria Nunes, Ricardo Iannace, Marina Colasanti, Eucanaã Ferraz, Teresa Montero, Arnaldo Franco Junior e próprio filho da autora, Paulo Gurgel Valente.

O realizador Luiz Fernando Carvalho, que adaptou recentemente para o cinema o livro “A Paixão Segundo G.H”. (com estreia prevista para o ano que vem), também assina um dos textos.

Essa primeira reedição, contempla o primeiro livro, “Perto do coração selvagem” (1943), que foi um grande sucesso de crítica, tendo recebido muitas avaliações positivas, inclusive a do escritor Antonio Candido, que, à época, saudou a estreia da escritora para o jornal Folha de S.Paulo: “dentro de nossa literatura, é uma performance da melhor qualidade. A autora — ao que parece uma jovem estreante — colocou seriamente o problema do estilo e da expressão”.

“O lustre” (1946), segundo livro, ao contrário, teve recepção acanhada e, com ela, o início da relação conturbada da escritora com as editoras ao longo da carreira. Por fim, “A cidade sitiada” (1949), escrito em Berna, na Suíça, quando a jovem Clarice acompanhava o marido Maury Gurgel Valente em missão diplomática.

A primeira literatura de Clarice, que agora chega às livrarias de cara nova, dá a ver nos temas, modos de narrar, humor, estilo e inquietações existenciais as mesmas qualidades que – reiteradas por críticos e público — seriam a marca de uma carreira de sucesso trilhada pela grande escritora.

De volta ao começo

Clarice Lispector nasceu na aldeia de Tchetchelnik, na Ucrânia, no dia 10 de dezembro de 1920. Era filha de Pinkouss e Mania Lispector, casal de origem judaica que fugiu de seu país diante da perseguição aos judeus durante a Guerra Civil Russa.

Ao chegarem ao Brasil, fixaram residência em Maceió, Alagoas, onde morava Zaina, irmã de sua mãe. Clarice tinha apenas dois meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram o nome. Nascida Haya Pinkhasovna Lispector, passou a se chamar Clarice.

Depois, a família mudou-se para a cidade do Recife onde Clarice passou sua infância no Bairro da Boa Vista. Aprendeu a ler e escrever muito nova e logo começou a escrever pequenos contos.

Foi aluna grupo escolar João Barbalho, onde fez o curso primário. Estudou inglês e francês e cresceu ouvindo o idioma dos seus pais o iídiche. Ingressou no Ginásio Pernambucano, o melhor colégio público da cidade.
Com 12 anos, Clarice mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, indo morar no Bairro da Tijuca. Ingressou no Colégio Sílvio Leite, onde terminou o ginasial. Era frequentadora assídua da biblioteca.

Em 1941, Clarice ingressou na Faculdade Nacional de Direito, e empregou-se como redatora da Agência Nacional. Depois passou para o jornal A Noite. Em 1943 casa-se com o amigo de turma Maury Gurgel Valente. Em 1944 formam-se em direito.

Primeiro livro

Em 1944, Clarice publica seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, que retrata uma visão interiorizada do mundo da adolescência e que abriu uma nova tendência na literatura brasileira.

O romance provocou verdadeiro espanto na crítica e no público da época. Sua narrativa quebra a sequência de começo, meio e fim, assim como a ordem cronológica, e funde a prosa à poesia.

A obra Perto do Coração Selvagem teve calorosa acolhida da crítica e, no mesmo ano, recebeu o Prêmio Graça Aranha.

Viagens e novas publicações

Ainda em 1944, Clarice Lispector acompanhou seu marido – diplomata de carreira, em viagens fora do Brasil. Sua primeira viagem foi para Nápoles, na Itália. Com a Europa em guerra, Clarice ingressa como voluntária, na equipe de assistentes de enfermagem do hospital da Força Expedicionária Brasileira.

Em 1946, morando em Berna, Suíça, publicou O Lustre. Em 1949 publica A Cidade Sitiada. Nesse mesmo ano, nasceu seu primeiro filho, Pedro. Dedicou-se a escrever contos e em 1952 publica Alguns Contos.

Depois de seis meses na Inglaterra, em 1954 vai para Washington, Estados Unidos, onde nasce seu segundo filho, Paulo. Nesse mesmo ano, seu livro Perto do Coração é publicado em francês.

Jornalismo e Literatura Infantil

Em 1959, Clarice se separou do marido e retornou ao Rio de Janeiro, acompanhada de seus dois filhos. Logo começou a trabalhar no Jornal Correio da Manhã, assumindo a coluna “Correio Feminino”.

Em 1960 trabalhou no Diário da Noite com a coluna “Só Para Mulheres” e nesse mesmo ano lançou Laços de Família, livro de contos que recebeu o Prêmio Jabuti da Câmara Brasileira do Livro.

Em 1967 publicou O Mistério do Coelhinho Pensante, seu primeiro livro infantil, que recebeu o Prêmio Calunga, da Campanha Nacional da Criança.

Nesse mesmo ano, ao dormir com um cigarro aceso, Clarice Lispector sofreu várias queimaduras no corpo e na mão direita. Passou por várias cirurgias e viveu isolada, sempre escrevendo. No ano seguinte publicou crônicas no Jornal do Brasil.

Clarice passou a integrar o Conselho Consultivo do Instituto Nacional do Livro. Era considerada uma “pessoa difícil”. Em 1976, pelo conjunto de sua obra, Clarice ganhou o primeiro prêmio do X Concurso Literário Nacional de Brasília.

Última publicação em vida

Em 1977 Clarice Lispector escreveu Hora da Estrela, sua última obra publicada em vida, onde conta a história de Macabea, uma moça do interior em busca de sobreviver na cidade grande.

A versão cinematográfica desse romance, dirigida por Suzana Amaral em 1985, conquistou os maiores prêmios do festival de cinema de Brasília e deu à atriz paraibana Marcelia Cartaxo, que fez o papel principal, o troféu Urso de Prata em Berlim em 1986.

Clarice Lispector faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu aniversário. Seu corpo foi sepultado no cemitério Israelita do Caju.
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Obras de Clarice Lispector
• Perto do Coração Selvagem, romance (1944)
• O Lustre, romance (1946)
• A Cidade Sitiada, romance (1949)
• Alguns Contos, contos (1952)
• Laços de Família, contos (1960)
• A Maçã no Escuro, romance (1961)
• A Paixão Segundo G.H., romance (1961)
• A Legião Estrangeira, contos e crônicas (1964)
• O Mistério do Coelho Pensante, literatura infantil (1967)
• A Mulher Que Matou os Peixes, literatura infantil (1969)
• Uma Aprendizagem ou Livro dos Prazeres, romance (1969)
• Felicidade de Clandestina, contos (1971)
• Água Viva, romance (1973)
• Imitação da Rosa, contos (1973)
• A Via Crucis do Corpo, contos (1974)
• A Vida Íntima de Laura, literatura infantil (1974)
• A Hora da Estrela, romance (1977)
• A Bela e a Fera, contos (1978)