João Pessoa, 10 de abril de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Era uma vez Tistu, o menino do dedo verde. Eu já era um garoto, quando li o livro “O Menino do Dedo Verde” (1957), de Maurice Druon (1918/2009) que me fez ultrapassar muros, casas, cidades e países.
Tistu tornava os lugares feios e tristes, em alegres e bonitos. Até a guerra Tistu foi capaz de reverter, quando transformou canhões em flores.
O menino do dedo verde nunca morreu.
No Brasil, um menino bonito, chamado Henry, que pulava na cama da mãe, foi morto pelo namorado dela.
Certamente Henry era engraçado. Todas as crianças são, até as famintas. Talvez…
Eis mais um crime, a prova, a oportunidade e o instante. A mãe sabia que o padrasto maltratava o filho.
A professora Monique e o “Dotô” Jairinho disseram que o menino havia caído da cama e morrido. Impossível.
Meu olhar para um fosso. É, o fosso, daquelas câmaras de gás de execução.
A mãe viu a morte chegar, participou, foi conivente, impiedosamente.
O dotô Jairinho, pobre diabo, monstruoso, criminoso, seja o que for, não era parente do menino, mas mãe não foi a guardiã do filho.
Os dois foram presos. Mataram o menino. Todo mundo sabe.
Uma mãe perversa. Insana. Um filho é amigo da vida inteira. Uma mãe traiçoeira.
Lembrei de Zuzu Angel que correu ruas, rios e janeiros batendo em portas procurando o filho morto (Stuart Angel), que mora na escuridão do mar, como canta Chico Buarque, na canção “Angélica”.
Lembrei da Mãe de Gorki, que trabalhava noite e dia para alimentar o filho Pavio.
Lembrei da mãe do escritor brasileiro Fabricio Carpinejar, a poetisa Maria Carpi, que o alfabetizou quando a escola o dispensou, quando ele foi diagnosticado com retardo mental. (Ele, é o nosso entrevistado deste sábado aqui no MaisPB)
Lembrei da minha mãe que tomava banho numa bacia de zinco, não sabia ler, mas jamais mataria um de nós.
Uma mãe selvagem, a Monique, que foi fazer as unhas e cabelo, no dia que enterraram seu menino.
Durante pouco tempo essa história ficará no noticiário, a pandemia é o tema que nos arrasta. Ou o que conseguirmos suportar.
Matar um filho é algo imperdoável, é melhor sucumbir. É melhor se matar.
Mães de todos os lugares, choram lágrimas pesadas.
Ficamos até mais fortes para o combate, perto de um filho.
Algo se confunde com a paz das famílias, que vão espreitar mais esse crime. Talvez a voz da Seita dos Flagelados, do Século XIV.
Barracão de zinco sem telhado, sem pintura lá no morro é bangalô, mas as mães do morro não matam os filhos
Era uma vez Henry, o menino do dedo azul.
Kapetadas
1 – Esse casal é de morte.
2 – Monique e Jairinho, deuses da carnificina.
3 – Som na caixa: “A gente quer carinho e atenção”, Gonzaguinha
*Nota de Rodapé
É inacreditável que assassinos e agressores de crianças tenham beneficio legal como progressão de pena e regimes que não o fechado. O caso do menino Henry Borel não é o primeiro e não será o último.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024