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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Fotos – Antonio Brasileiro
O cantor Rodrigo Bittencourt, compositor, diretor de cinema, TV e teatro, roteirista e escritor está lançando em parceria com Zeca Baleiro, o single “Jaboticaba”. Uma canção focada numa mulher negra e no Brasil com suas belezas e mazelas, um país tão diverso e desigual. “Jaboticaba” é uma canção bem construída do século 21. E tem seus recados.
O artista conta que conheceu a moça numa festa em São Paulo. Quando Zeca Baleiro soube da história, sugeriu que os dois fizessem uma canção. Rodrigo diz que a mulher da letra “é a mulher que está ou deveria estar no imaginário de cada homem e também de cada mulher. É a mulher do Brasil, a preta que me comove, que funda o nosso país e que gera os filhos desta terra”.
A música tem uma sonoridade delicada, baseada em cordas e traça, numa analogia com a fruta jabuticaba, recheada de metáforas sobre as questões raciais e sobre o amor inter-racial.
A partir da fruta jabuticaba os artistas buscam e esperam romper o padrão. E tem o momento cultural. Ele achou que o nome da moça, Jaboticaba, parecia ter saído de um conto do Machado de Assis. “Jaboticaba, raça cheia de glória, pretos cantando vitória, cheios de amor para dar” ou “Ah… Vida vida, longa espera, acuada fera, o amor vingará!”, trecho da letra.
Jaboticaba tem sonoridade delicada, toda baseada em cordas, a música canta o amor geral, e brada com sutileza contra a falta de empatia para com a diferença, num Brasil despedaçado, cuja razão de existir é a miscigenação. Neste single, pura poesia, os dois fazem um dueto que marca a parceria que vem de longe.
Rodrigo Bittencourt: das telas e das letras
Rodrigo Bittencourt escreveu, dirigiu e fez a trilha sonora do seu primeiro longa-metragem, “Totalmente Inocentes” (Globo Filmes/Paris Filmes, 2012). O sucesso foi imenso alcançando a marca de mais de meio milhão de bilhetes. Seu segundo longa, “Real: o plano por trás da história” (Globo Filmes/Paris Filmes, 2017), no qual foi o responsável pela direção e trilha sonora, levou 100 mil pagantes aos cinemas.
Já o seu terceiro longa, “Missão Cupido”, onde fez roteiro, direção e trilha sonora, estreou neste mês de junho de 2021 com coprodução da Paramount Pictures e distribuição da H2O Filmes. Dirigiu programas de TV no Canal Brasil e Multishow, dirigindo Felipe Neto. Realizou o projeto Santa Cultura, onde lecionava arte para meninos e meninas do morro Dona Marta.
Entre as obras ainda inéditas estão a série “Evas do Gramado”, baseada em fatos reais, e as peças “Os Dez Dias que Roubaram do Mundo” e “O Que Há de Errado com o Meu Coração”. Como compositor, foi gravado por Maria Rita, Fagner, Thaís Gulin, Ana Carolina e tem parcerias com Zeca Baleiro, diretor artístico do disco de Rodrigo Bittencourt “Que a Felicidade Seja um Dom”, deste 2021. Lançou outros três discos: “Canção Pra Ninar Adulto”, “Mordida” (produzido por Nilo Romero) e “Casa Vazia” (produzido por Pedro Sá, que assina discos de Caetano Veloso). Como escritor possui dois livros publicados: “Esmalte Vermelho”, com orelha de Cacá Diegues e “Ópera Brasil de Embolada”, com orelha de Zeca Baleiro. É autor também de “Missão Havana” (escrito quando Rodrigo morou em Cuba, que será lançado em julho) e o vai lançar em breve o curioso livro P*&B*.
Em entrevista ao Portal MaisPB, os dois artistas falam da construção de Jaboticaba e de vários projetos pessoais que estão para acontecer. Rodrigo acaba de lançar o filme “Missão Cupido” e vai lançar no início de julho a canção “Mariele” e Zeca Baleiro não para: fez mais 80 canções nessa pandemia e anuncia um CD só de duetos com Chico César.
Rodrigo Bittencourt
MaisPB – A canção “Jaboticada”, você disse que aconteceu numa festa e conheceu uma bela mulher negra, que se chama Jaboticaba. Sendo ou não o nome dela, valeu a inspiração?
Rodrigo Bittencourt – Sim, o nome dela não é Jaboticaba, mas valeu a inspiração, principalmente, quando é por bem, sempre. Quando é uma inspiração que é minha parceria com Zeca Baleiro sobre amor inter racional, hoje em dia e sempre.
MaisPB – Como aconteceu a ideia de transformar a cena numa música e fazer em parceria com Zeca Baleiro?
Rodrigo Bittencourt – A ideia de ter feito essa parceria com Zeca vem de outras. A gente já estava ensaiando outras parcerias. Eu sempre admirei muito o Zeca, eu ia aos shows dele com meu pai. Tem uma história linda do meu pai com a música, ele comprava os CDs pra mim e dizia: “Você tem que compor com um cara assim”. Até falei para ele: pai eu mal comecei a compor uns punroks, vou compor com Zeca Baleiro? Ele me disse: “você não só vai compor com ele, mas vai cantar também. Outro dia pensei no meu pai sorrindo, ele vendo o que imaginava. (meus pais já morreram). Ele tocava muito bem violão. Aprendi muito com ele. Quando eu tinha banda ele ia aos meus shows. Foi com ele que eu comecei a escutar Caetano, Gil, Chico Buarque. Aí passei a procurar minhas coisas. Minha mãe adorava Gonzaguinha.
MaisPB – Foi Zeca quem escreveu a orelha de seu livro “Ópera Brasil de Embolada”?
Rodrigo Bittencourt – Sim, a nossa parceria começou aí depois voltamos nos falar. Eu sou carioca e moro em Perdizes (São Paulo) e Zeca, em Sumaré, bem pertinho. Inclusive ele deixou um biscoito de maçã para mim, agradeço a ele na entrevista. Ele leu meu livro “Missão Havana” que vou lançar dia 8 de julho, que eu escrevi em Cuba. Voltamos a nos falar e aí fizemos Jaboticada, a primeira parceria foi um samba. Ele é meu padrinho na MPB. Já temos umas seis músicas juntos e tem a canção “Santinho” que ele faz dueto comigo.
MaisPB – Jaboticaba fala de um amor que pode ser amplo em qualquer lugar do mundo. Vamos falar sobre?
Rodrigo Bittencourt – A música está indo muito bem nas plataformas. Eu acredito que vai alcançar muita gente. Parte do trabalho do artista é comunicar coisas desse gênero. A música ela pode educar muito bem. O mundo cheio de gente pedante, agressiva, falam com jeito de manipulação, como forma de agenda política de esquerda ou de direita, a música está acima desse antro que foi construído no Brasil.
MaisPB – E seu filme ‘Totalmente Inocente’?
Rodrigo Bittencourt – Meu primeiro filme “Totalmente Inocentes”, já tinha essa briga, os pretos amam esse meu filme, que está na Netflix e também meu livro, a minha música nova que vou lançar dia 2 de julho que se chama Mariele e que se subverte a frase do Jorge Ben Jor, em que ele falava “sou Flamengo e tenho uma Negra chamada Teresa. eu digo “sou Marielle e tenho uma nega chamada Flamengo. Também tem a coisa de subverter o machismo além do racismo. Eu acho que a trajetória do Zeca Baleiro é muito ligada a cultura brasileira. Não só Zeca Baleiro, tem o Caetano Veloso e muitos outros trabalham nessa ideia de não racismo.
MaisPB – Como compositor, tem suas canções na voz de Maria Rita, Fagner e Thais Gullin, além de compor em parceria com Jorge Mautner e Ana Carolina. Quais as canções de Maria Rita e Fagner?
Rodrigo Bittencourt – Sim, a Maria Rita deu o nome do disco dela com minha música, “Samba Meu”, abre os shows com minha música. Já o Fagner ele gravou uma canção minha para o filme de Jorge Rezende “Onde anda você”. Foi a minha primeira canção na voz de uma artista grande. Eu nem acreditei quando o ouvi cantando. A Maria Rita já foi um pouco diferente, porque ela é minha contemporânea, mas achei bonito, que a minha carreira na MPB estava indo para uma coisa boa. Por exemplo, Gil e Milton foram gravados pela mãe dela, Elis. Thais Gullin é muito minha amiga, gosto muito dela, das canções que ela escolhe para gravar. Ela vai regravar no novo disco dela, com outro arranjo e me parece tem clipe de “Cinema Americano”. Me chamou para dirigir o clipe.
MaisPB – E as parcerias com Jorge Mautner e Ana Carolina?
Rodrigo Bittencourt – Jorge Mautner temos uma parceria. Foi ele quem deu a ideia de colocar o nome do meu segundo livro “Ópera do Brasil da Embolada”. A música com ele se chama “Coleção de Amores”, eu gravei no disco que está no Spotify, que se chama “Mordida”, que o Nilo Romero produziu, ( que foi produtor de Cazuza). Eu tenho uma música linda com a Ana Carolina, mas ela não gravou, nem eu. Eu gravei dela: “As pequenas coisas”. Já cantei uma canção minha chamada “Esmalte”, com ela no palco.
MaisPB- E seus discos três discos de sua carreira solo, os dois livros publicados: o romance “Esmalte Vermelho” e o infanto-juvenil “Ópera Brasil”. Para a televisão, também escreveu e dirigiu a série “Até Que Faz Sentido” (2012), exibida no Multishow. É muita produção né?
Rodrigo Bittencourt – É muita produção. Eu sou capricorniano. Eu amo a arte, além de salvar as pessoas que gostam, salva a gente que produz. Escrevi duas peças agora, vou dirigir o ano que vem, em 2022. Já estou com outro livro na Editora que se chama P & B ( Pau e Boceta) que vai sair neste ano. Escrevi uma série que se chama “Erva do Gramado”, estou conversando com uma companhia grande e tem muitos singles para lançar. O nome do meu disco “Que a Felicidade seja um dom”. Tenho três discos solo e dois com minha antiga banda que se chamava Le Pop, é uma banca muito bacana, abrimos shows para Titãs para Pit. Eu descobri que na pandemia, depois da morte da minha mãe, (ela partiu antes da pandemia). Resolvi fazer isso, trabalhar, lendo e relendo
MaisPB – Vamos falar da comédia “Missão Cupido” com Isabella Santoni, Lucas Salles e Ágatha Moreira, lançado este mês?
Rodrigo Bittencourt – Está sendo um prazer, tenho recebido muita crítica boa. O filme é uma comédia, (que são detonadas no Brasil). É uma comédia romântica. Um filme está indo bem, fomos obrigados a lançar por questões contratuais, – vai para o Telecine e para a Globo. Ai milhões de pessoas vão assistir. Eu gosto de trazer pessoas novas para minhas produções. Em “Totalmente Inocente” eram três protagonistas que eram três meninos, nesse primeiro filme estão lá Fábio Porchat e Felipe Neto.
MaisPB – E os políticos?
Rodrigo Bittencourt – Político é tudo mentiroso, de um lado ou do outro, eles querem a manutenção do poder, eles estão cagando pra todo muito. Eu conheço a maior parte deles, já sentei para reunião e sei como eles são. Eu caio nessas ondas e os artistas não podem entrar nessa. Tenho visto artistas brigando uns com os outros, precisamos nos abraçar. Falo da música, da dança, do teatro, dos poetas. Precisamos nos cuidar, e é importante tirar esse louco poder. Outro dia o Caetano Veloso postou a estreia do meu filme “Missão Cupido” nos stories dele, ele gostou do filme e deu essa força pra mim. Ninguém pode cancelar ninguém.
Zeca Baleiro
MaisPB – Zeca, omo aconteceu a composição de Jaboticaba, que fez com Rodrigo, aliás foi você que surgiu que daria uma canção?
Zeca Baleiro – Desde que Rodrigo se mudou pra São Paulo, ficamos mais próximos. Algumas vozes e violões do novo disco foram gravados no meu estúdio. Um dia Rodrigo me contou a história do encontro dele com a “Jaboticaba”. Falei: “Que história bonita, bicho, isso dá música”. Aí ele apareceu com a música iniciada, era linda já, mas faltava um B, um refrão, e eu fiz. Depois arrematamos juntos.
MaisPB – O que você anda fazendo nessa pandemia? Teremos um disco novo?
Zeca Baleiro – Cara, fiz e tô fazendo muitas coisas. Compondo e produzindo muito, é meu jeito de manter a sanidade. Fiz trilha pra dois filmes também: “Achados não Procurados”, de Fabi Penna, e “Tarsilinha”, animação de Célia Catunda e Kiko Mistrorigo. Acho que fiz cerca de 80 canções, só ou com parceiros diversos: Chico César, Vinícius Cantuária, Wado, Marcos Magah, Betto Pereira, Vicente Barreto e outros mais. Com Rodrigo fiz umas sete, quatro delas estarão no CD novo dele.
MaisPB – E as parcerias com Chico César?
Zeca Baleiro – Lancei 2 singles com Chico, estamos preparando um álbum inteiro em parceria que será lançado no segundo semestre, e tenho outros singles sendo produzidos para breve.
MaisPB – Entrevistei essa semana Sandra Pêra e ela falou da sua participação no disco dela cantando Belchior, na faixa “Na Hora do Almoço” e que foi você que escolheu cantar esse clássico. Vamos falar dessa novidade?
Zeca Baleiro – Ah, Sandra fez um disco lindo e inusitado cantando Belchior. Deu um toque teatral, levemente cabaré ao repertório dele, que resultou incrível. Prazer imenso cantar com ela, tem um timbre e uma pegada muito originais.
MaisPB – Você é conhecido também pela generosidade, quando lançou um disco de Sérgio Sampaio e o de Vanusa. Vem do coração essa amabilidade?
Zeca Baleiro – Cara, não sou esse poço de candura não. Sou também furioso e intempestivo, como bom ariano. Alguns desses trabalhos que você citou nem são movidos exatamente por generosidade, mas por um senso de justiça histórica, eu diria. Isso pra mim é um compromisso pessoal, mais que profissional até.
Ouça a canção “Jaboticaba”: https://backl.ink/147076431
MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024