João Pessoa, 07 de setembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um poder se estabelece e promete o fim da exploração, numa atitude diametralmente oposta ao poder anterior. O poder constituído fixa regras claras que o distanciam de modo inequívoco do poder que havia antes. Da forma mais declarada possível, o poder atual diz ser inimigo irreconciliável do poder que o antecedeu. Estabelece-se uma igualdade entre o novo poder e a população que o apoia. Todos são iguais. Ninguém é melhor do que o outro, ninguém terá qualquer privilégio. Todos absolutamente iguais e sem privilégios, eis a lei simples e inteligível.
Aos poucos, porém, alguns se intitulam líderes e começam a se distanciar dos demais, alegando que são os que pensam e que precisam guiar os demais com um estafante trabalho intelectual. A massa aceita, mas dentre os próprios líderes começa a haver discordâncias até que o expurgo do antigo amigo e companheiro leal acontece. De repente, o antigo amigo vira um inimigo ancestral e responsável por todos os males; os projetos execrados do antigo amigo, hoje leproso político, são agora – e sempre foram – da autoria do atual líder, sempre se distanciando cada vez da massa, que ainda o acredita um igual. As leis antes fixadas e claras sobre a inimizade com o poder anterior começam a se esgarçar e a mudar. Não falta o propagandista a declarar que cada mudança ocorrida e cada ruptura com relação à lei, antes clara, sempre foi daquele jeito que está ocorrendo. Mudam-se os fatos, criam-se fatos novos como se fossem antigos, muito antigos. Há os que ingenuamente acreditam e propagam a ideia inocentemente, há a claque paga a repetir os chavões a toda hora, há o propagandista incansável bramando que o novo governo é a maravilha das maravilhas.
Coisas básicas e essenciais começam a faltar. Os líderes nunca sentem esta falta, estão cada vez melhor, mais fartos, mais gordos, mais prósperos e… com os mesmos hábitos do poder deposto. A propaganda, contudo, não muda: eles são iguais à massa, que começa a passar necessidades, mesmo se esfalfando de trabalhar. Os críticos são ameaçados, expurgados e, frequentemente, desaparecem. Verdades desaparecem e novas verdades são criadas opondo-se àquelas expurgadas. Os líderes começam a falsear os dados e os que vêm de fora ou julgam de fora, apenas veem uma aparência e saem propalando que com o novo poder daquela região tudo mudou, não há mais miséria, só fartura e bem-estar. Acompanhado de um séquito de fidelidade canina, capazes de tudo, os líderes estão cada mais cheios de privilégios, mas continuam propagandeando fartura, igualdade e prosperidade. O medo começa a se instalar, pois as críticas já não são possíveis. Não há igualdade, nem liberdade, mas propaga-se que todos devem pensar igual, que todos vivem em um estado de direito…
Não entendam mal. Este é um resumo do entrecho de A Revolução dos Bichos, de George Orwell.
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OPINIÃO - 22/11/2024