João Pessoa, 28 de outubro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Já tendo superado as oito décadas de existência e outras seis residindo no mesmo endereço, tinha autoridade e experiência para opinar sobre a localidade onde morava. Era, como se costumava dizer, a decana do lugar.
O logradouro era a Rua da República que, naquela época, tinha predominância residencial. Numa casa geminada pariu três varões, criou-os, educou-os e os entregou às respectivas esposas. Mesmo tendo condições, nunca acenou por mudar de endereço. Dizia sempre, em tom altaneiro, que morava perto do Palácio do Governo; da Central de Polícia e do cemitério, mas não queria ir para nenhum dos três.
Trabalhava ali perto, na Rua Maciel Pinheiro, tão famosa pelos seus lupanares, locais onde muitos jovens tiveram sua primeira experiência com as mulheres de vida nada fácil. Durante o dia o comércio convencional predominava, à noite as luzes vermelhas eram indicativos dos prazeres da carne. O cartório onde trabalhou por mais de sessenta e quatro anos, situava-se em um prédio onde o andar de cima abrigava justamente um cabaré. Todos conviviam em harmonia porque quando terminava o expediente cartorário por volta das dezoito horas, às dezenove começava a esbórnia das prostitutas.
Contou-me o advogado Paulo Maia que a primeira ação que patrocinou, teve como parte interessada uma prostituta chamada Xuxa. Dizia em tom agradecido: foi sua mãe quem me indicou a primeira constituinte. Doutor Paulo Maia ainda vive para confirmar essa história.
Pois bem, essa mulher guerreira que nunca gozou um mês sequer de férias, era Juracy Lacet Porto. Jurinha para os muitos amigos. Sempre de bom humor, foi indagada por uma repórter sobre a origem da pedra da Praça do Trabalho, a famosa “praça da pedra”, e assim respondeu:
– Quando aqui chegou, a pedra era pequenina. Comecei a regar e ela cresceu.
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OPINIÃO - 22/11/2024