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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Eu, Diva e  Dionísio num  café

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publicado em 04/12/2021 ás 08h28
atualizado em 04/12/2021 ás 10h00

Desculpa, mas a minha saudade não é assunto que interesse a ninguém. Eu faço de conta que não sinto, mas sinto muito. Faz-se o que se pode, né?

Eu procuro Diva Medeiros nas vitrines da cidade, mas não vejo ela sumir por aí, como está na canção de Chico Buarque. Saudade de sair e tomar um café. Aliás, nunca era um café, era um croissant, um suco de laranja ou algo assim. O café era a desculpa.

Por que me lembrei de Diva? Porque  ela está em mim.

Ela representa uma significativa inflexão no meu estilo de pensar e escrever. Já conversamos muito sobre livros.

Outro dia, olhando uma rã, coisa rara, lembrei das rãs de Aristófenes, uma comédia delirante do Ocidente, imbatível em seus jogos verbais. As cenas hilariantes de disputa entre Ésquilo e Eurípides no reino de Hades, arbitrada pelo irreverente Dionísio, (foto) símbolo da representação da beleza,  do vinho, são o ápice da peça. Preciso encontrar Diva.

Isso mesmo, já temos por onde ir, ao encontro de Dionísio.

Há nas palavras um efeito electromagnético, uma elasticidade, uma loucura – umas pegam outras que puxam-nos e a gente vai sem saber para onde ir,  porque  precisamos de ir a algum lugar e conversar. O café era a desculpa.

A última vez que nos vimos, já faz um tempo, estávamos eu, ela e Jacqueline Moraes, que foi logo dizendo: “esse é o último encontro deste ano”, que ela ia viajar etc. Eu até insisti.

Diva venceu a Covid, mas ainda luta contra algumas dificuldades. Conversei com Alice Caymmi essa semana, sobre seu novo disco “Imaculada” e gostei muito da canção que abre o  álbum: “eu te amo dentro da minha cabeça. Não vai ser um vírus que vai me silenciar”.

Talvez um lago, talvez o barquinho da canção de Roberto Menescal.  Que loucura eu aqui aflito sem ter o que dizer e a inventar coisas. Siiiiim,  as palavras não estão sozinhas, sozinhos estamos nós, as palavras têm suas companhias, estão na composição, seus gozos, andam de boca em boca absorvendo significados ou renovados ou revelhos.

Para dizer a verdade, acho que não tenho nada a dizer, estou sem emoção, a cabeça um cirandeiro, e sem palavras, caminho aos pulsos, detenho-me por instantes encostado à memória, sou assaltado por saudades e a saudade não é assunto que interesse a ninguém.

Lembro-me de cabelos ao vento, gente jovem reunida, mas não gosto das paredes da memória, até que vislumbro um signo, semeio e colho um sonho impossível, jamais o tempo perdido de Proust.

A quem deverei dirigir  minha palavras se elas não forem minhas?  Bate uma  sensação de valer a pena ter ido, estar vivendo ou talvez a de ser o esforço a pena que vale, aquela coisa da assinatura, da personalidade. Isso, Diva tem  – personalidade. Vamos chamar o vento de Caymmi?

Assobiando canções, decantando cenas, procurando Diva…

Kapetadas

1’ – E esse dezembro que não acaba, hein?

2 – Eu só quero poder chegar nos lugares e pedir um decaf and a lollipop sem ser julgado por isso.

3 – Som na caixa – “Sabe de uma coisa Seu/Vou lhe jogar no meu baú/Vivo e mágico/Com as coisas boas que tem lá”,  Vanessa da Mata.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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