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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Não é o primeiro

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publicado em 11/12/2021 ás 08h37
atualizado em 11/12/2021 ás 08h50

Atravessava o silêncio no jardim, quando o ouvi dizer que um filho havia interditado a mãe. O silêncio se foi, como se nunca antes, tivesse se instalado – um filho ter a coragem de fazer isso com uma mãe, em sua plena saúde mental?  Não é o primeiro.

Lembrei de um vídeo de uma mãe que chega em casa, encontra a filha deitada na garagem numa crise de depressão e ela se deita ao lado. Companheirismo.

Depois pensei na canção de Gilberto Gil, “Tempo Rei” em que ele fala em mães zelosas, pais corujas, “vejam como as águas de repente ficam sujas” Puxa vida! Assim não caminha a humanidade.

Você cria um filho como se nunca depois imaginaria, que ele fosse capaz de lhe passar uma rasteira. Traição é como covardia, é crime.

No eco do silêncio todos os sons se fizeram incêndio na minha cabeça, porque não se sabe o que nos espera. Sequer, no amém.

Eu fico ouvindo os pássaros que cantam cedinho e me atravessam continentes, enquanto eu tento imitá-los. Não preciso dizer que sou um homem bom.

Paz, amor e todos os signos guarnecidos, naquilo que eu era, naquilo que eu fui, um bom filho.

Sou um homem velho atravessando a dor dos outros nesse silêncio de mim mesmo e a minha estrada, que começa aqui no jardim e me leva para o mar.

Pedras, mapas, cartas no epicentro

Uma mãe se desespera.

Um filho ingrato.

Predizem futuros, mas é mentira. Uma mãe mata e rouba por um filho, mas esse filho esquece rápido do tempo do acalanto, do dorme-nenê.

Heranças malditas.

Eu penso nessa mãe, quase alma, no significado da vida.

Há mães nas esquinas com filhos nos braços pedindo comida. Há uma mãe dilacerada em casa, há uma mãe que se banha com lágrimas, há uma mãe que não come para não deixar faltar comida na boca dos filhos. Há uma mãe em toda parte.

Há um filho capaz de tudo, que descreve, ou o definimos nesse contexto em que se desentendeu do mundo em gestos, sem compreender o sentido um do outro.

Dos sinais e em sinais, uma mãe para o mundo incompreensível traduzindo entre desesperos e silêncios. E agora José? Cadê você José?

Kapetadas

1 – Seja qualitativo. Ser quantitativo pode significar vários nadas, por exemplo.

2 – Quão violenta pode se tornar a gramática quando você joga um objeto direto na cara do sujeito!

3 – Som na caixa: “Eu preparo uma canção/Que faça acordar os homens/E adormecer as crianças”, Drummond e Milton Nascimento.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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