João Pessoa, 14 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma amiga me pergunta sobre minha posição com referência aos exibicionismos nesses dias que correm. Pensei comigo. Nunca deixamos de nos exibir para os outros, ou para nós mesmos, nem que seja diante do espelho. O autoamor é, decerto, mais essencial que viver a três, a quatro ou mais, que amor a muitos, carrega tesões e ilusões. Amar-se a si mesmo (redundantemente), é a atribuição primeira de quem se sente apto para amar o outro. E amar a si mesmo, não é somente ter autoestima.
Eu queria dizer que, raramente, encontramos alguém que não tenha alguma forma de vaidade própria. Não obstante, exibir-se descontroladamente é uma nova forma de exibicionismo. Diria mesmo, uma forma jocosa. De uma dimensão restrita ao espaço em que nos relacionávamos, tornou-se dIsfórmico em sua essência e cibernético na capacidade de alcance.
Os escritos bíblicos, recomendam para que não façamos as coisas para que recebamos elogios, ou seja, por vaidade, à espera do elogio, da distinção. Francisco de Assis pregou e deu o testemunho de quem viveu no encalço da humildade, perseguindo um éden terreno
A transformação digital da linguagem, no entanto, tem nos trazido uma palavra velha, com roupagem nova. Ostentação. Situada no mesmo espectro do glamour, do bem-estar; senão da bondade. Quando, de fato, ela é, em substância, da mesma matéria da soberba, enquanto orgulho excessivo, ou vaidade ao extremo. Onde o querer, o eu posso, sobreleva todos os outros seres. A ira exibicionista do dinheiro, da demonstração de falso poder; quando não, a propagação das próprias intimidades e luxúrias, como evidência para si, de que se põe acima de tudo, quase sempre resguardados por contas fartas que atividades virtuais proporcionam.
A mídia, nos últimos dias, fez repercutir, de forma exaustiva, a “farofa da GKay”, (foto) uma youtuber de Solânea-PB, que depois de algum sucesso financeiro; comemora seu aniversário ao lado de celebridades. Isso eu também faria, se me colocasse na posição dela. Compreensível.
A garota reservou um hotel para hospedar seus convidados e, segundo disse, com bailes, festa e pegação. Dois milhões e oitocentos mil teria sido pago pela ostentação da moça. Fiquei aqui pensando, que entre milhões de pessoas, de velhos, pobres, estudantes e mulheres sozinhos pelas ruas (Pessoas cinzas, Belchior!), haja lugar para tanta presunção.
Antes que um hater entre para dizer que estou com inveja das fortunas alheias, direi que duas coisas não me atraem: nem a carência, nem o excesso. Observo: a grama, mesmo que verde, não cresce, nem sobrevive, quando a pisoteamos em excesso. E há um campo imenso de pessoas, cujos olhos imploram solidariedade. Vejo que esse campo descomunal de gente, tanto quanto a grama, é espezinhado em sua miséria, por várias formas e fontes de ostentação desmedida. E ninguém liga. Como se nada mais houvesse nessa vida.
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