João Pessoa, 21 de dezembro de 2021 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu sou um sujeito comedido. Já fui reprimido também. Graças a onze anos de análise pessoal, e, é capaz, minha experiência como terapeuta também tenha me ajudado. Sou menos reprimido e menos exigente comigo mesmo. Minha análise foi um exercício de desgastar, pouco a pouco, um superego grande demais, cheio de exigências incabíveis, e que me trazia muita culpa. Senti-me, depois, muito mais livre. Uma coisa foi marcante: de uma preocupação obsessiva para que as coisas acontecessem do modo que programei ou queria, fiquei um sujeito até relapso.
Portanto, para um acontecimento me abalar, é preciso ser de um tamanho considerável. Bateu o carro? Está tudo bem com as pessoas? Bateu o carro…. O fato não tem força de me deixar uma semana preocupado. Nem uma hora. Esse é o avesso do que eu era. Como foi acontecer comigo? (A pergunta que nos fazemos a todo instante!). Por que aconteceu? Ora, porque acontece.
Quando fui pai, já tinha perdido esses cacoetes todos. Ser mãe, pai, esses parentescos todos que nos trazem a responsabilidade sobre a vida de outros, são bem complexos. Contam que Freud, fazendo suas conferências para o público em geral (poucos médicos acreditavam em suas teorias!), uma senhora pergunta: – Então, como devo criar meus filhos? Ele foi fatal: – Crie de qualquer jeito, que vai ser errado.
Era uma piada? Não. Ele quis dizer do lado impossível de você fazer tudo numa medida certa. Quem já se viu medir sentimento, conseguir, ao mesmo tempo amar e dar limites na dose certa. Não há a certa, porque não há a medida. Em interações mãe-filho, pai-filho, filho-filho, tudo vai depender das respostas e do quantum de energia afetiva que fluirá entre os elementos da relação.
Volto a falar de mim. Cresci com exigências além dos limites confortáveis. Brincávamos pouco. Era quase proibido! No dia seguinte do início das férias, íamos todos para o “sítio”. Íamos para trabalhar. Cada um na sua capacidade de idade e força; mas todos, sem exceção, fazia alguma coisa. Acordava às seis, não podia ficar dormindo, mesmo que nada houvesse para fazer.
Com o inverno, vinha também o trabalho. As chuvas molhavam as terras. E tudo se voltava para o entorno das chuvas. Preparar o chão. Plantar. Colher. Cuidar dos animais. Cuidar que eu digo, era alimentar, porque eles eram tratados com uma certa desumanidade. Eram os costumes. Todos faziam da mesma forma. Se tivesse como, eu pediria perdão aos animais, aos cachorros (não existiam dogs!), aos bois, aos pássaros. Por que os prendia, se hoje vivo para libertar pessoas? As vacas, não, essas eram tratadas com carinho. Elas davam leite, portanto, eram fonte de alimento e, assim, intocáveis. Todas tinham nome para que pudéssemos acarinhá-las.
Quando meu filho adoeceu, de forma inesperada, fiquei apreensivo. Preocupado. Desesperado, não. E para utilizar uma palavra moderna, estava bem proativo. Juntei as forças para garantir demonstrar serenidade e apoio. Todos os apoios possíveis. Centrei tudo que tinha aí. para que pudesse ajudá-lo, não sabia bem onde nem como, mas, pelo que escreveu do seu sentir: “[…] O mundo parou, o tempo ficou mais lento, não entendia o que acontecia comigo”, eu precisava ajudá-lo a entender o que acontecia. Principalmente, a resolver!
Se suportar a fragilidade humana e de si mesmo, conforme falou, foi seu momento mais indizível, elaborar o processo de doença e de cura, não deve ter sido menos pesado. Ele conseguiu, sim, e anunciou para todos, de forma pública, que “a força e a vida passam a habitar novamente em mim”. Como qualquer pai, que considera essa função das mais sublimes, proclamo, também publicamente, que, se todos eles estão bem, termino 2021 como o homem mais feliz. Meu filho venceu!
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