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Kubitschek Pinheiro MaisPB
Fotos – Fernando Tomaz
A cantora Alice Caymmi lançou seu mais novo álbum de estúdio “Imaculada”. O disco é o quinto projeto completo da artista e é composto de nove faixas inéditas. Está em todas as plataformas digitais.
Ela abre o disco cantando: “Eu te amo dentro da minha cabeça, mesmo que você me esqueça. Não vai ser um vírus que vai me desanimar, nem tirar de mim o meu desejo de cantar” – isso já dá o tom da proposta arrebatadora do álbum “Imaculada”.
A estética do disco é elegante como a artista e conta com diversas fotografias de Fernando Tomaz, que mostra a cantora com flores e longos vestidos, criando uma atmosfera espiritual e sublime. Junto à aura criada pelos visuais, Alice Caymmi apresenta uma série de músicas com a mensagem de amor próprio e colaborações com diversos artistas.
Nesse disco Alice arrebenta, flutua, seduz e impacta, assim como na capa assinada por Giovanni Bianco. Aliás, Alice participou ativamente da criação de cada detalhe do disco produzido por ela em parceria com Vivian Kuczynski e que traz as participações da própria Vívian, Urias, Number Teddie e Mulú.
Com este disco, Alice, certamente, se mostra a frente do tempo e principalmente por isso, a mais interessante continuidade do legado de Dorival Caymmi. para a música contemporânea. Fincado no pop, bem ao estilo dela, “Imaculada” dialoga diretamente com sentimentos leves e profundos, sempre narrados pela voz avassaladora de Alice.
Alice detesta seguir padrões e está bem satisfeita com o resultado de “Imaculada”.
Ela conversou com o MaisPB e comentou a gestação desse disco, falou da vida, do Brasil e mudanças.
MaisPB – Vamos começar por “Imaculada”, a última faixa que dá nome ao disco?
Alice Caymmi – Então, é uma canção que dá um caminho ao disco, eu sabia que tinha que dar para todas as questões que são apresentadas no álbum. Todos problemas e vivências. Eu compus essa canção sobre o perdão, o entendimento mais maduro sobre a vida, sobre as pessoas e colando não só na fé, mas no perdão de superar tudo, de continuar vivo, principalmente de continuarmos vivos
MaisPB – Já estava certo que essa canção entraria no disco?
Alice Caymmi – Eu a fiz junto com as outras, acabou saindo de uma forma inesperada e, posicionei, olhando para todas as canções que eu havia feito. Eu decidi colocar a canção encerrando o disco e nomeando também.
MaisPB – “Dentro da Minha Cabeça”, abre o disco é uma canção muito forte…
Alice Caymmi – Pois é, as coisas acontecem dentro da nossa cabeça. É uma canção sobre afastamento, sobre o amor em tempos de pandemia, a possibilidade e a impossibilidade do amor, do afeto, do contato, a impossibilidade da construção do afeto. Na verdade, ela brinca com a impossibilidade de uma coisa à distância, que acaba com o amor. Isso é impossível. Tanto que os afetos e as relações interpessoais se mantiveram. Isso não deixou de acontecer. O que deixou de acontecer foi o contato de mais de uma pessoa ao mesmo tempo, o contato físico. Mas o que acontece na cabeça da gente continua.
MaisPB – A Vivian Kuczynski foi uma indicação de seu pai, Danilo Caymmi?
Alice Caymmi – Sim, ele me mandou o trabalho dela e disse: ela é muito nova, mas me lembra de você, seu jeito de pensar as coisas e eu acabei chamando para produzir “Imaculada” e depois seguimos produzindo todas as outras músicas.
MaisPB – “Medusa” a oitava faixa vem exatamente depois de “Serpente” e são canções parecidas. Essa canção veio da obra de Caravaggio?
Alice Caymmi – Sim, claro, o quadro me inspirou a fazer esse poema, que virou música, há alguns anos atrás, fora da pandemia. Não é só uma melodia e uma letra, a gente foi fazendo um arranjo e ficou muito bonita, virou um flamenco.
MaisPB – Vamos falar da terceira faixa “Recíproco?”
Alice Caymmi – Se não é recíproco, eu não fico.
MaisPB – Como nasceu esse quinto disco?
Alice Caymmi – Esse disco, ele se transformou em “Imaculada”, não foi engavetado não. Eu estava planejando, não era Imaculada, eu parei, pensei no clima social, histórico e a minha arte não sai destoante. Veio a pandemia, eu mudei o curso do disco, porque estava sendo feito num momento histórico totalmente diferente e mudou completamente.
MaisPB – E a canção “Confidente”, a oitava faixa, que traz na abertura uma canção de seu avô, “é o mar, é o mar” de Dorival Caymmi? E tem algo de Dostoiévski…
Alice Caymmi – Sim, com certeza, autobiográfica, e ela fala do amor. Bem colocado essa afirmação de Dostoiévski, bem lembrado. Eu li muito “Os irmãos Karamázov”, que é um romance que me influenciou muito para fazer essa canção. E tem sim um trecho de uma canção de meu avô.
MaisPB – Você nunca pensou em gravar um disco com as canções dele, o genial Dorival Caymmi?
Alice Caymmi – Eu penso sim, mas tenho que chegar num lugar de maturidade ainda maior. Eu tenho sim isso na lista de afazeres, mas só depois.
MaisPB – A canção “Ninfomaníaca”, a quinta faixa, você compôs depois que viu o filme do mesmo nome de Lars Von Trier e tem algo de Nietzsche, né?
Alice Caymmi – Sim, esse filme me influenciou muito, na minha estética, em tudo, desde de meu disco “Rainha dos Raios”, de 2014. que é um disco niilista também. Mas existe o niilismo sim, o amor que eu tenho por essa estética niilista e essa coisa estranha alemã, que não tem nada a ver com a gente, é muito oposto, eu gosto de brincar com isso e aos mesmo tempo que sou muito dramática
MaisPB – E a “Lenda da Luz da Lua”, a sétima faixa?
Alice Caymmi – É uma coisa geracional essa canção, é um para minha geração, para as pessoas que assistiram o desenho do Sailor Moon. Na verdade, é a música de abertura do desenho e aí as pessoas ouvem e ficam na dúvida ou reconhecem de algum lugar. Elas se sentem contempladas com essa regravação e fiquei feliz em fazer tipo aos 50, eu quis fazer uma homenagem.
MaisPB – A canção “Sentimentos”, segunda faixa, ela não quebra o sentido do disco, né?
Alice Caymmi – É a canção mais palatável do disco, mais compreensível, porque tudo meu tem algum incômodo, então “Sentimentos” vem como esse momento de respirar, de entender as coisas.
MaisPB – Você é muito “escandalosa”, né Alice? O ensaio fotográfico fala por si…
Alice Caymmi– É uma coisa, é aquilo que eu falei, o barroco com o niilismo, com a ninfomaníaca, que sempre existiu. com a imaculada, o lado imaculado que seria barroco, rococó, romântico com um lado dramático, denso, coisa do cinema dinamarquês.
MaisPB – Não tem vírus que chegue perto de você?
Alice Caymmi – Nem chegou, não peguei esse negócio. Estou vicinadíssima.
MaisPB – Você já esteve em João Pessoa?
Alice Caymmi – Nunca, mas quero ir. Eu tenho que corrigir isso, preciso cantar pra vocês.
MaisPB – Você acredita que em 2022 as coisas vão melhorar?
Alice Caymmi – Sim, vamos tirar esse cara do poder, Tenho muita fé que as coisas vão melhorar, sair dessa miséria e acho que nunca tive tanta fé na minha vida.
Veja o clipe de Serpente
OPINIÃO - 22/11/2024