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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A Beira Rio não é feia

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publicado em 25/01/2022 ás 08h02
atualizado em 25/01/2022 ás 09h47

(dedicado a memória de William Pinheiro)

É mais rápido chegar na cidade pela avenida Beira Rio, que nunca ninguém a chamou de Avenida Ministro José Américo de Almeida, até que poderia vingar, por conta do romance “A Bagaceira”. Soledade que o diga. Ele próprio escreveu: Pareçome comigo”, se não me engano. numa tarde de carnaval no Rio de Janeiro. Mãos à obra.

Eu não sou o cronista da cidade, isso fica para os mais inteligentes, muito mais, muito mais.

Saio de casa pela avenida Beira Rio, onde ela é mais bonita, com as árvores, palmeiras e um corredor chamado ciclovia, quase sem bicicletas. Aqui ali, uma pessoa indo trabalhar e operários circulam com suas bicicletas antigas. As árvores vão ficando escassas na travessia.

Passo devagar em frente à Granja Santana na tentativa de ver o governador João Azevedo tomando  o café da manhã nos jardins. O nome Santana, está na música do pernambucano Junior Barreto, quase uma alucinação, que diz que a Santa de Santana chorou sangue. Santa não chora, rapaz. Alguém sabe dizer por que a Granja do Governador, chama-se Granja Santana? Tem que entender.

Logo depois vem uma favela sem nome, cujo percurso dura exatamente trinta segundos e nem parece uma favela: são casas coloridas, com Wi-Fi em seus sobrados e puxadinhos. A Avenida Beira Rio não chega a ser uma ficção, mas é quase um “docudrama”.

Eu queria era recolher histórias sobre pessoas que são como eu. E o motivo pelo qual comecei a escrever novamente sobre ruas, praças, avenidas e logradouros. Não vou muito longe nessa estrada dos desenganos.

Sem ruge e batom, a Beira Rio não tem nada cool. Sol a pino, e nenhuma cena de atentado ao pudor.

Todos os dias tem qualquer coisa de triste e belo nesta cidade quase unilateral.

Depois da Escola que tem nome de Leonel Brizola, que nada tem a ver com João Pessoa, a paisagem dá uma impressão de que estamos num sitio, com o imenso bucolismo. Dez anos atrás vacas pastavam solenes na avenida…

Geralmente eu evito passar pelas lojas de pneus, oficinas, vendedores de coco e postos de gasolina. Antes da ladeira que me leva para cidade alta, entro num atalho que vai sair na barriga do bairro da Torre. Ai a coisa ferve.

O bairro da Torre, com esse nome imperioso, as casas pequenas e velhas e o comercio esculhambado de manga, sapateiro, fumo, peixe fresco e seco, latas de tinta, parafusos e se brincar, sexo de segunda. O Rei da Cocada Preta mora nas imediações ou nasceu lá.

Antes de entrar à esquerda no Posto Maia, (onde já houve um crime passional), passo pela Rua Clarice Justa, para chegar à avenida Camilo de Holanda.

Outro dia fui em frente e uma vi moça bonita na calçada da Primeira Igreja Batista.  Parei e fotografei. Segue a novena. Aliás, onde foi parar O Porteiro do Inferno do artista Jackson Ribeiro?

Desço e já estou na Lagoa, que as pessoas chamavam de cartão postal.

“Pena de pavão de Krishna, Maravilha vixe Maria mãe de Deus”

Pena que a cidade não é um cartão postal.

Essa estrada não vai dar em nada e eu sou um pégaso a galopar deleites.

Kapetadas

1 –  A próxima crônica urbana será sobre o Bairro dos Estados e suas antigas mansões.

2 – Com as redes sociais, nossa Literatura se tornou uma Epidemia Brasileira de Letras.

3- Diga seu filme predileto, através de uma frase dita nele.

4 – Som na caixa: “Riu-se a própria natureza/No dia em que/O amor nasceu” (Prenda Minha).

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