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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Um pássaro cinza

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publicado em 15/02/2022 ás 07h32
atualizado em 15/02/2022 ás 13h00

A vida passa voando! A morte, tira fino.

Nada é uma eternidade, nem o leite que minha mãe colocava para ferver no fogão de alvenaria e mandava eu pastorar, para não derramar. Era uma eternidade…  Hoje, nem choramos mais o leite derramado.

Dia desses, fui levar a minha sogra H em sua casa, aqui pertinho, na mesma rua e vimos um pássaro morto no asfalto, de cor cinza e barriga amarela. Lembrei logo da música de Hamilton de Holanda, que anuncia a flor que nasce no asfalto. Hamilton tem essa natureza, de tirar sons do bandolim para nos acalmar, nos salvar.

Olhei bem o pássaro, mas não quis fotografar, seria muito invasivo. Na volta pra casa, o pássaro já estava colado no asfalto, uma réstia. Já não dava mais para ver o peito amarelo.

Eu adoro a cor azul, essa cor esperançosa, saber que tem azul por todo lado, fazer uma escala de azuis, cada intensidade, tonalidade e depois verificar em que tom estaria o céu do lugar onde o pássaro acabara de morrer. O céu de meu bairro é sempre azul claro. E ainda temos muitos pássaros.

Tudo é narrativa, borboleta, libélula, linguagem, pássaros num universo a situar o olhar para a Terra azul, tão pequena, nesse universo de bolhas, bolhas e bolhas. Cada um no seu galho.

Como é possível viver assim, ser mulher, ser espancada, ser menino, não ter nada, destino, desatino. Louças para lavar, comidas, dores, calças e camisas combinando, gasolina, boletos, inúmeros boletos, lápis tinta e papel A 4.

Eu sei quem  inventou o amor, mas não sei quem desinventou. O amor é um samba. Os paletós não enlaçam mais os vestidos, ou os paletós que enlaçam outros paletós.  Então, pra que dois guarda roupas? Os pássaros deixam o ninho bem cedo.

Estou sempre a imaginar diálogos, o diálogo de Vang Gogh e sua cores quentes, o diálogo da menina consigo mesma, o diálogo do bandolim com Hamilton, o diálogo da gente com o céu.

Por que será que as pessoas passam pela vida sem contemplar um flamboyant ( foto da nossa calçada) e sua intensa coloração nas flores e qual importância tem isso?

Mal me quer bem me quer. Qual a flor usada para isso?

Eu fico com a resposta das crianças da canção de Gonzaguinha.

Será que é tão difícil descrever o azul?  E o passarinho?

Kapetadas

1 – O futuro adeus pertences.

1 –  Pois é, tô aqui estacionado em uma ideia meio vaga.

3 – Som na caixa: “Passarinhos/Soltos a voar dispostos/Achar um ninho/Nem que seja no peito um do outro”, Emicida

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