João Pessoa, 15 de fevereiro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A vida passa voando! A morte, tira fino.
Nada é uma eternidade, nem o leite que minha mãe colocava para ferver no fogão de alvenaria e mandava eu pastorar, para não derramar. Era uma eternidade… Hoje, nem choramos mais o leite derramado.
Dia desses, fui levar a minha sogra H em sua casa, aqui pertinho, na mesma rua e vimos um pássaro morto no asfalto, de cor cinza e barriga amarela. Lembrei logo da música de Hamilton de Holanda, que anuncia a flor que nasce no asfalto. Hamilton tem essa natureza, de tirar sons do bandolim para nos acalmar, nos salvar.
Olhei bem o pássaro, mas não quis fotografar, seria muito invasivo. Na volta pra casa, o pássaro já estava colado no asfalto, uma réstia. Já não dava mais para ver o peito amarelo.
Eu adoro a cor azul, essa cor esperançosa, saber que tem azul por todo lado, fazer uma escala de azuis, cada intensidade, tonalidade e depois verificar em que tom estaria o céu do lugar onde o pássaro acabara de morrer. O céu de meu bairro é sempre azul claro. E ainda temos muitos pássaros.
Tudo é narrativa, borboleta, libélula, linguagem, pássaros num universo a situar o olhar para a Terra azul, tão pequena, nesse universo de bolhas, bolhas e bolhas. Cada um no seu galho.
Como é possível viver assim, ser mulher, ser espancada, ser menino, não ter nada, destino, desatino. Louças para lavar, comidas, dores, calças e camisas combinando, gasolina, boletos, inúmeros boletos, lápis tinta e papel A 4.
Eu sei quem inventou o amor, mas não sei quem desinventou. O amor é um samba. Os paletós não enlaçam mais os vestidos, ou os paletós que enlaçam outros paletós. Então, pra que dois guarda roupas? Os pássaros deixam o ninho bem cedo.
Estou sempre a imaginar diálogos, o diálogo de Vang Gogh e sua cores quentes, o diálogo da menina consigo mesma, o diálogo do bandolim com Hamilton, o diálogo da gente com o céu.
Por que será que as pessoas passam pela vida sem contemplar um flamboyant ( foto da nossa calçada) e sua intensa coloração nas flores e qual importância tem isso?
Mal me quer bem me quer. Qual a flor usada para isso?
Eu fico com a resposta das crianças da canção de Gonzaguinha.
Será que é tão difícil descrever o azul? E o passarinho?
Kapetadas
1 – O futuro adeus pertences.
1 – Pois é, tô aqui estacionado em uma ideia meio vaga.
3 – Som na caixa: “Passarinhos/Soltos a voar dispostos/Achar um ninho/Nem que seja no peito um do outro”, Emicida
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OPINIÃO - 22/11/2024