João Pessoa, 11 de junho de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eis a cidade, toda escorchada, com casas e prédios em ruínas.
Eis o menino, o mendigo e o malabarista boliviano no sinal da Rua Rodrigues de Aquino, que já foi mais pacata, quando era Rua da Palmeira.
Eis a fome, o feijão, o instinto, a esperança e eis o desuso de máscaras e o vírus voltando. Eis o medo, a morte e o castigo.
Eis a obra de arte a mais cobiçada, “Retábulos de Ghent”, também designada por Adoração do Cordeiro de Deus (foto) obra-prima dos irmãos Van Eyck, que passou por vários percalços. A mais roubada do mundo.
Eis o profeta Dostoiévski, eis a consciência humana.
Eis a sinuosa nudez da mulher de cobre que se cobre e me cobre.
Eis a língua portuguesa.
Eis a língua ferina, a língua de trapo e o viés.
Eis o rapaz em seu transe de gozo falante.
Eis a palavra sem precisar de “palavra de homem”. Eis o estado de espírito.
Eis uma frase de Pascal estampada numa rua de Belo Horizonte: “Se você não acredita em Deus e nas Escrituras e estiver errado, você irá para o fogo eterno”.
Eis um estado de sítio, o Brasil.
Eis a multiplicação das facções.
Eis o odor do abraço dissolvido e esquecido. Eis a mulher macia. Eis o sol semântico iluminando o mar.
Eis o Pessoa e as pessoas mortas. Eis a chegada, olho no furacão anímico dizendo: “eis-me”.
Eis o Vesúvio!
Eis a vida bruta e líquida, atordoada o que é e está, em contraposição a todos os “anti-eis”, coisas que não existem, como o dinheiro e a expressão “conforme foi dito acima”, que sempre foi dita.
Eis o exclusivo, mesmo que não seja, eis a bailarina, com ou sem pentelhos, eis o homem triste da nossa época. Eis o prato e a cocaína.
Eis a sociedade, uma horda virtual única de mal educados. Eis as tribos valentes, eis a milicia.
Eis o som, eis o ringue, o suingue, a madrugada, eis o sêmen, o rito erótico.
Eis o trânsito infernal, eis o marginal, eis a rotina e a mágoa, eis o friso e o cabelo, eis o chiclete na boca.
Eis o sonho e o tapete, eis o livro e eis o passageiro da agonia. Eis a lavanda, a roupa lavada, a saideira e a facada.
Eis o corredor, as batidas na porta, eis o tempo.
Deus está no políptico complexo de Van Eyck.
Kapetadas
1 – Não gostar de mim não faz de você uma boa pessoa, mas já atesta um certo bom gosto.
2 – Pessoas que encontram a paz interior em uma xícara de café, por favor, se apresentem.
3 – Som na caixa: “Eu possuo apenas o que Deus me deu”, Tom Jobim
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OPINIÃO - 22/11/2024