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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O longínquo Jomard

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publicado em 11/10/2022 às 07h00
atualizado em 11/10/2022 às 11h36

Uma cena de Roberto Carlos e Erasmo cantando juntos no Macaranã, em 2009, é tão bonita, tão forte.

Depois que vi o abraço que o rei Roberto deu em Erasmo, lembrei da ligação de vídeo que fiz para Jomard Muniz de Brito, no último domingo. Uma cena difícil. Tenho falado sempre com ele.

Jomard é uma pessoa inesquecível. Era o jornalista Walter Galvão quem sempre me ligava pedindo o número dele. Galvão já foi.

A voz pequena de Jomard do outro lado do Recife e a conversa não fluí. Quem atende é a cuidadora Isolda. “Espere, que eu vou passar para ele”. Ou “Você poderia ligar daqui a meia hora?’ Jomard de pijama na sala. Jomard não sai da vida.

Jomard é sensacional. Aprendi muito com ele. Fui seu aluno.

Havia em Jomard uma militância cultural imensa, mas tudo isso foi representado e mostrado de forma constante, longe da tecnologia. Jomard não tem Instragam. Talvez, se tivesse, postaria seus atentados poéticos.

A sua performance muito empenhada nas criações de concepções modernas, na literatura e nos filmes que fez, hoje exprimem o desfasamento da vida: os verdadeiros desejos deste homem e sua esplendente autoimagem.

Jomard não é uma permanência calada, jamais decorativa do que ele fez e faz diante dos cagões cheios de conservadorimos e autoritarismo, com o mapa das suas consciências escancaradas e muitas porradas.

Jomard  na sua arrasadora presença, de nunca esgotar os temas. Homem de palavra, palavras outras, neologismos, sabia brincar com as palavras como ninguém, diante de tantos que se dizem cultos, sem arte.

Pondo-me a sentir muito triste, mas às vezes rindo para mostrar a ele que está tudo bem.  Ao telefone, sinto falhar sua voz, as frases cortadas. Li um poema de Drummond para ele.

Na entrevista que fiz com Caetano Veloso, em agosto passado, ele se referiu a Jomard de uma forma amorosa: “Jomard é figura muito amada por mim desde sempre. Ele foi tropicalista pioneiro e é amigo”.

Jomard de gestos enormes, tão infindos. Seu brilho vai se deslocando dos caminhos.

 Kapetadas

1 – “Nunca é alto o preço a se pagar pelo privilégio de pertencer a si mesmo.” (Nietzsche)

2 – O mundo me obriga a tomar chá de sumiço.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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