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Academia de Letras  

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publicado em 22/02/2023 ás 07h00
atualizado em 21/02/2023 ás 21h53

 

Quando me perguntaram qual a sensação de entrar para o seleto grupo da Academia, respirei silencioso e deixei que o espírito falasse por mim.

Devo ter respondido que uma Academia é aquilo que cada um deseja que seja: iluminada pelas luzes dos mais diversos saberes, desde o estudo das antigas línguas e costumes, até a moderna linguagem da informática e de todas as possibilidades científicas.      

Para explicar este espaço de cultura que passei a ocupar, recorro a Joaquim Nabuco, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, para quem, “a uma Academia importa mais elevar o culto das letras, o valor do esforço, do que realçar o talento e a obra do escritor”.  

Para mim, tudo partiu da terra, dos livros e da escrita. Eu escrevo com a terra e o vento.    

Escrever foi o meio encontrado para conviver no diálogo com amigos e com o transcendental, um diálogo silencioso e fecundo na busca da comunhão com todos.    

Entendo que as palavras são como vasilhames capazes de recolher os pingos do Universo na ocasião em que estão sendo escritas ou pronunciadas.  

Quando muitos lá fora alimentam valores estranhos à boa convivência, da Academia poderá sair o estímulo aos saberes, o acesso ao livro como alimento da alma e da inteligência para construir a consciência da harmonia e mostrar como exercitar os valores humanos e o respeito à democracia. Eu me recuso a aceitar a intriga e a espalhar o ódio.    

O ambiente onde ocorreu a acolhida dos acadêmicos é o que desejo ressaltar aqui, sem estardalhaço, mesmo recheada de emoção. A posse aconteceu na nave central da Igreja de Santo Antônio dos Franciscanos na Paraíba, no Centro Cultural São Francisco.

         A mesa da presidência dos trabalhos ficou no transepto da Igreja, que fica entre o presbitério e capela-mor, espaço onde existe o arco cruzeiro.  Na nave, ficaram os acadêmicos que me recepcionaram e nos bancos, os convidados e meus familiares.  

          Por um momento aguardei no galilé, sendo introduzido no ambiente pelos acadêmicos Roberto Cavalcanti, Flávio Tavares e Hildeberto Barbosa Filho. Saímos do vestíbulo em procissão e seguimos pela nave até o transepto.   

No lugar onde a solenidade aconteceu, os convidados tiveram a oportunidade de contemplar o magnífico forro da nave central da igreja, com pintura ilusionista do século XVIII, que representa a glorificação de São Francisco, atribuída ao pintor baiano Joaquim José da Rocha.  

         Como também, a azulejaria portuguesa nas paredes da nave que conta a saga de José do Egito, além do púlpito que é considerado por Germain Bazin como sendo o mais belo das Américas.  

         O claustro, onde os convidados se confraternizaram comigo e meus familiares, é formado por uma bela colunata em calcáreo, lugar do início da construção do Convento, no início do século XVII.  

         Os convidados também puderam observar a Capela Dourada, com suas deslumbrantes talhas douradas típicas do barroco joanino.  

Neste lugar recebi as insígnias da Academia, que são a Medalha e o Diploma de Acadêmico. O Diploma foi entregue pelo presidente Ramalho Leite e a Medalha pela minha primogênita neta Luana Maria, estando rodeado pelos netos Bernardo, Arthur e Perola, além de minha filha Angélica Nunes.  

Antes de iniciar a solenidade de posse, a violinista Ana Laura, brilhantemente, executou a Ave-Maria de Gounod, ouvida com redobrada atenção pelos presentes. Foi um momento para povoar de paz o espírito de quantos se fizeram presentes, porque renovou os fervores espirituais, tudo em sintonia com o ambiente mítico da nave e do claustro onde tudo aconteceu na noite de 9 de fevereiro de 2023.  

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