João Pessoa, 15 de março de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O amor pelos livros se revela de muitas maneiras. Conteúdo, forma, alinhamento, tipografia, diagramação, ilustração, arte final, editoração, autor, texto principal e paratextos, tudo pode canalizar o interesse, a afeição e o cuidado com que o bibliófilo ou o bibliômano, o leitor ou o colecionador, manifestam em relação aos livros. Os livros, “nossos amigos”, como diz Eduardo Frieiro, em um dos títulos fundamentais acerca do assunto.
Um aspecto me fascina em particular, ora atendendo às exigências do leitor, leitor sobretudo dado aos desafios das obras literárias; ora ao que aprecia colecionar, domado pela volúpia de organizar e completar os números de uma dada coleção. E, por falar em coleção, algumas me seduzem de modo especial e em virtude de alguns fatores decisivos que presidem sua criação e permanência editoriais.
Restringindo-me ao campo da cultura brasileira, e, neste, focalizando as obras de interesse literário, gostaria de destacar algumas dessas coleções com as quais convivo, em intimidade doméstica e com “afinidades eletivas”, no mágico ambiente de minha biblioteca particular. Isto é, o epicentro intelectual e afetivo que me move o mundo, que me move a vida e, por extensão, o precioso prazer de viver, na medida em que viver é ler, e ler é viver.
Da editora José Olympio, distingo três, que foram e são basilares na formação e no acompanhamento do leitor que sou. Elas, cada uma na lógica singular de seus critérios e finalidades, muito me ajudaram a compreender certos segredos da coisa literária, por dentro e por fora.
“Coleção Documentos Brasileiros”, principalmente ao revelar a presença de certas personalidades; “Coleção Sagarana”, toda voltada para nossa riqueza ficcional, e “Coleção Brasil-Moço: literatura viva e comparada”, dirigida por Paulo Rónai, indispensável ao estudante de Letras pela pertinência de seus procedimentos didáticos e pedagógicos. A propósito, tenho, aqui, em mãos, para municiar estas letras lúdicas, o exemplar dedicado a Luís Jardim, com seleção de mestre húngaro, notas, comentários e estudo crítico de Eugênio Gomes, e ilustração do próprio autor. Este último detalhe, por razões sabidas e consabidas, é simplesmente uma delícia e um diferencial à parte na consecução do volume.
Da Civilização Brasileira, devo ressaltar a “Coleção Vera Cruz”, comprometida, a princípio, com a produção narrativa de autores jovens e desconhecidos, embora não olvidasse, no âmbito de suas incursões ficcionais, alguns nomes consagrados.
Na poesia me parece coisa rara a “Coleção Claro Enigma”, da editora Duas Cidades, atenta à intervenção dos poetas contemporâneos (Alcides Villaça, Francisco Alvim, João Moura Jr. E José Paulo Paes, entre outros) e ao acabamento gráfico-visual, que faz de seus exemplares verdadeiros e inventivos livros-objeto.
Cheguemos mais para perto e lembremos, em torno da editora Ideia e do Projeto Ler, as coleções “Sofia”, “Diadorim” e “Pasárgada” que, nos anos 90 do século passado, ativaram a vida cultura da cidade de Philipeia de Nossa Senhora das Neves, abrindo caminhos para os novos poetas e escritores.
Estas e tantas outras coleções selam, sem dúvida, um dos pactos sagrados do bicho leitor (bicho insaciável e misterioso!), pois colecionar é preciso. Colecionar é também uma forma de ler.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
OPINIÃO - 22/11/2024