João Pessoa, 26 de março de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Já faz um tempo que me dei conta, que uma coisa me importava mais que muitas outras: percebi que estou no caminho do envelhecimento, não exatamente pelos desenhos que as rugas fazem no rosto ou o corpo dando sinais que já não somos os afoitos de antes.
Na verdade, eu quero mais é envelhecer com saúde, pois ainda há muito para viver e sonhar. Só não posso me sentir um estrangeiro, pois sei onde piso, sou brasileiro, vivendo num país bonito, mas desigual. Aqui a pabulagem é grande e a segregação reina.
Outro dia vi uma postagem da atriz Malu Mader (foto) dizendo que envelhecer não é nada fácil. Deve ser uma teimosia feminina. E não deve ser fácil mesmo, viver pintando o cabelo, não sair de casa sem uma base no rosto, uma maquiagem apresentável, arrumada e bela.
Mas há mulheres que não pintam os cabelos e encaram. Eu acho que o cabelo da mulher deve e tem que ser pintado, assim como acho careta, cafona o homem que pinta o cabelo, mas respeito. É gosto, né?
Em seguida me dei conta que, em sua vulnerabilidade, o estrangeiro em mim, que não sou, sequer a tormenta do Estrangeiro de Albert Camus, mas sei que posso contar com a hospitalidade que o outro pode me oferecer. Sim, estamos aqui para amparar amigos, irmãos, parceiros, passantes – ajudar, colaborar. Sou feito de amabilidades.
Assim como as palavras se beneficiam da hospitalidade, principalmente dessa assertiva que reina sobre nós paraibanos, (hospitaleiros), mas muitas vezes não cuidamos nem de nós, sequer dos nossos velhos.
Da página em branco do computador, ou aquele branco que às vezes acontece com todos nós e o médico diz que é estresse, quem tiver a sorte de não morrer cedo, envelheceremos todos nesse (mar) mal necessário. Por muita alegria, eu acho que a arte de envelhecer deve ser uma coisa natural, com saúde e lucidez.
O pássaro da hospitalidade, do afeto entre jovens e idosos, pais e filhos, netos e avôs, amigos, é uma incondicional da vida: é o trunfo de envelhecer. Não exatamente ir para o céu, mas saber contar as estrelas, as Três Maria, o Cruzeiro de Sul e reconhecer que viveu, valeu.
Mas o que é envelhecer? Morar numa casa limpa, na sombra, se possível aguar as plantas do jardim, assistir filmes com os netos, soltar pum a vontade, olhar para a mesa do jantar e não ver os filhos que foram para correntezas, coçar o olhos, chorar um pouquinho de saudade, operar de catarata, tomar uma taça de vinho, comer papa de aveia, olhar para frente para não cair, não ser teimoso, querer ir ao banco conferir o saldo, se divertir nos vídeos que chegam pelo zap ou acordar todos os dias e ter ou quem sabe, o mesmo propósito de viver dos peixes – nadando…
Não, envelhecer é uma coisa natural, é saber que estamos cada vez mais pertinho do céu. Ué, o céu de novo? Sim, está na canção de Herivelto Martins -“pois quem mora lá no morro, já vive pertinho do céu…”
Envelhecer lendo bons livros, tirar as remelas e saber que não é mais gato, nem gata, tomar comprimidos, depois do café, do almoço e da janta, verificar a pressão, dar um cochilo e uma volta na calçada do mar, na pracinha, na rua, e não nadar mais contra a maré.
Ei, K, cadê o boné?…
Kapetadas
1 – Quem merece suas lágrimas não tem interesse no seu choro.
2 – O mais doido da pré-história foi a pedra que era lascada depois ficou polida.
4 – Som na caixa: “Mas quando eu for bem velhinho, bem velhinho, que usar um bastão, eu ei de ter um netinho, pra me levar pela mão”, Lupicínio Rodrigues.
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OPINIÃO - 22/11/2024