João Pessoa, 11 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Amanheceu. Acordei tarde no último domingo, tinha ido para o show de Djavan e quando volto dos shows, fico um tempo sem conseguir dormir. A música é a minha droga. Juca Pontes foi embora com suas antologias e poesias.
Da varanda, escutei no rádio uma canção antiga de Fausto Nilo. Cantei baixinho: “Amanhã tudo pode acontecer, hoje a nossa vida é pequena”. Essa canção eu ouvia no rádio, nos anos 70.
Conheci Juca em 1975, na Pensão de Maria, na Avenida Duque de Caxias.
O celular ainda dormia. Depois do café, vi uma mensagem, várias mensagens, e uma postagem no Instagram de Joria Guerreiro: eu, ela e Juca. Estava lá o anúncio de que Juca Pontes tinha morrido. Escureceu.
Chovia desde a madrugada, quando voltamos do show de Djavan.
Dizem que podemos esperar pela chuva. Mais uma vez a chuva jogou água nos meus olhos. A chuva tem muito a ver com nossa vida. O sol, também.
Nós estamos sujeitos à inclinação dessa dor – são milhares de perdas. Juca me dava cartaz. Já vi esse filme.
Anoiteceu. De tanto seguir, cegar, perdemos o jeito metódico obrigatório de viver. Era tão bom ser amigo de Juca.
Clareou. Meus olhos enredando-se entre vegetações e as flores do nosso jardim. Juca gostava de mim.
Uma dor espalhada na cidade.
Em tempos assim, mãos apertadas.
Mãos de Juca que trabalhou na claridade dos livros, nos enigmas, no espanto que liga os instantes. Parece que os nossos passos, os passos da vida, ainda respondem à sua ausência.
Juca e os livros eram companheiros inseparáveis.
Puxa Juca, partir num domingo, um dia besta, para deixar as sementes, depois as flores, nunca mais os abraços.
Kapetadas
1- Um amigo quando vai, é porque nunca foi. Juca, o de sempre!
2 – Insistirmos, a que será que se destina.
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OPINIÃO - 22/11/2024