João Pessoa, 20 de junho de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Domingo passado, um telefonema de Haroldo Pinheiro, (que eu sempre o imaginei da mesma árvore), mais que isso, amigo dos caminhos do mar. Haroldo estava em prantos. Seu amor Sandra, da vida inteira, havia morrido.
De um homem espera-se, que ele tenha coragem para enfrentar as perdas, corajoso o suficiente para não vogar diante da corrente, que leva nossos amores. Talvez até por uma inocência, mas precisamos concluir nossa missão.
Sandra não foi apenas a mulher que Haroldo conheceu, era o amor da sua vida, meio século e nunca vi nada igual, o zelo seguido do intuito desse amor, da conquista, da primeira vez, a simpatia mutua.
Sandra e Haroldo caminhavam todos os dias no mar do Cabo Branco. Eles chegavam bem cedo, para embarcação das pernadas, acho que às 4 horas da manhã e eu só os encontrava já de volta, junto a alguns de seus pares. Sandra ainda esticava até o Busto de Tamandaré.
Sandra morreu de quê, Haroldo? Ele me disse que ela adoeceu na terça e morreu na quinta
A margem de carinho de um homem por uma mulher não se mede, mas o amor de Haroldo e Sandra, eu vi de perto, um encanto, sublime, como um poema que recitamos de Fernando Pessoa.
Impossível não se emocionar escutando um homem ao telefone dizendo que não sabe “como vai ser daqui pra frente”, e não vai conseguir viver com a saudade dela, a Sandra que conseguiu deixá-lo homem feito, mas nós homens somos frágeis, carentes, dependentes da mulher.
Eu nem posso dizer a ele e digo, a frase do ator River Phoenix (que morreu há trinta anos, com 23 anos) – que Milton Nascimento musicou e gravou no disco Miltons: “corra para o resgate do amor que a paz o seguirá”. Haroldo perdeu Sandra, seu refúgio, mas não perdeu a luz.
Essa união de Haroldo e Sandra é, certamente, a mais verdadeira carta de amor de uma eternidade, por onde passei nos últimos anos. Não deve ser fácil perder a mulher amada, a dona da casa, mas enquanto estivermos sobre a trilha da vida, seguiremos pelo que já se fez, que se faz e fará, nos incluindo no filme de outras vidas.
Meu caro amigo Haroldo, minha admiração pela história de vocês, amáveis, enredados e felizes.
Restou a Haroldo a comunidade, nós, os irmãos do mar.
Kapetadas
1 – Solidariedade – uma palavra que pode estornar o sentimento ainda vivo.
2 – Há pensamentos que me seguem, há sentimentos que moram comigo e a vida passa tão depressa.
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OPINIÃO - 22/11/2024