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Paulinho Moska celebra 30 anos de carreira com shows na Paraíba

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publicado em 09/09/2023 ás 12h05
atualizado em 09/09/2023 ás 13h04

Kubitschek Pinheiro

Fotos –  Rafael Catarcione

A turnê dos 30 anos de carreira do cantor e compositor carioca Paulinho Moska, teve inicio no dia 26 de agosto, no Circo Voador, que será lançado em audio visual, Agora chegou a vez do   Nordeste, com o show “Os Violões Fênix do Museu Nacional”. Serão duas apresentações no Projeto Seis e Meia,  dia 14 deste mês, no Teatro Paulo Pontes, e dia 16, em Campina Grande, no Teatro Severino Cabral – ambos às 18h30. Paulinho onde fará um passeio pelos principais sucessos e parte do repertório do seu álbum mais recente, Beleza e Medo.

O show, criado a partir de dois instrumentos – os violões Fênix, construídos com madeiras de rescaldo do Museu Nacional, destruído por um incêndio, em 2018, que traz, em sua essência, fragmentos da história do Brasil – destaca também a trajetória artística do cantor e compositor, com um repertório que passa por três décadas de carreira solo.

Grupo Fênix –  A relação entre Paulinho e os violões começou com o bombeiro Davi Lopes, que atuou no apagamento ao fogo do museu, e que pensou em dar outra luz, após incêndio. Davi é luthier, um artesão de instrumentos musicais, e junto de jornalistas, produtores e artistas – entre eles Paulinho Moska – criou o “Fênix”, um grupo que trabalhou para que o projeto de dar uma nova vida a essas madeiras se tornasse realidade.

Desse trabalho surgiu o premiado documentário “Fênix: o voo de Davi”, de Vinícius Dônola, João Rocha e Roberta Salomone, veiculado na GloboNews disponível na GloboPlay. A canção “Tudo Novo de Novo”, de Paulinho Moska, foi escolhida como tema principal do filme.

Quer saber mais? Leia a entrevista que Paulinho Moska concedeu ao MaisPB, falando do show, da vida, do palco, dos parceiros e amigos. “ Um dos meus melhores amigos na vida é Chico César e ele sempre me aproxima de vocês“, disse o artista.

MaisPB – Trinta anos na estrada e vai começar as comemorações pelo Nordeste, que coisa boa, né? Cantar a vida e o tempo em palcos onde você tem muitos fãs?

Paulinho Moska  O Nordeste é incomparável, com tantas camadas de coisas boas. Depois de uma turnê por aí, sempre volto pra casa mais brasileiro, mais carinhoso, mais saudável, mais generoso… o Nordeste me melhora. Eu nasci no Rio de Janeiro, mas meus pais eram baianos e eu visitava muitos parentes nas férias de verão. Depois a música me levou para todos os estados e capitais nordestinas e pude conhecer as diferenças entre cada região, cada povo, cada tempero, cada sotaque, cada história.

MaisPB – Aliás, na Paraíba teremos dois dias de show, em João Pessoa no dia 14 e em Campina Grande, no dia 16. Vamos falar desse reencontro com os fãs paraibanos?

Paulinho Moska – Adoro João Pessoa, Campina Grande e os paraibanos. Um de meus melhores amigos na vida é Chico César e ele sempre me aproxima de vocês, seja contando casos de sua vida ou revelando particularidades da cidade. Fico feliz que seja no projeto Seis e Meia porque sei que os ingressos são mais baratos e mais gente poderá desfrutar dos shows.

MaisPB – O show Paulinho Moska – “Os violões Fênix do Museu Nacional”, é de cara, um show de responsa, né?

Paulinho Moska – Muita! Essas madeiras são sobreviventes de uma tragédia. É a terceira vida delas, que já foram árvores, depois museu e agora são violões. São infinitas camadas de poesia e beleza. Eu sempre penso na floresta, depois no chão do museu, nas pessoas que entravam lá pra ver aos objetos expostos. Tudo isso queimou, virou cinza… menos as madeiras que estão no corpo desses dois violões. Não é incrível? Todas as minhas letras ganharam novos sentidos nesse show, todas agora se referem à poesia renovadora que essa história traz para nossas vidas.

MaisPB – Me parece que outros artistas também têm um violão da madeira de rescaldo do Museu Nacional. O fato de você ter dois violões, já é um pouco de felicidade, pela sensação do voo da Fênix?

Paulinho Moska – Os instrumentos pertencem ao Museu Nacional e podem ser requisitados a qualquer momento para alguma cerimônia e/ou exposição. Os músicos que cuidam das obras são chamados de “padrinhos”. Foram construídos um violão clássico com cordas de nylon e um violão folk com cordas de aço (que estão comigo), uma viola de dez cordas (que está com o padrinho Almir Sater), um bandolim (com o Hamilton de Holanda), um cavaquinho (com a madrinha Nilze Carvalho) e um violino (apadrinhado por Felipe Prazeres da Orquestra Petrobrás de Música). Tocar num instrumento com essas madeiras, com essa história, esse sentido, essa poesia… é transcender em várias dimensões ao mesmo tempo, é como ir pro passado e pro futuro simultaneamente.

MaisPB – No Documentário “Fênix: o Voo de Davi” de Vinicius Dônola, João Rocha e Roberta Salomone, tem sua canção “Tudo Novo de Novo”, que é o tema do filme. Vamos falar dessa canção, quando foi feita, vamos falar da profundidade do documentário?

Paulinho Moska Minha canção “Tudo Novo de Novo” foi composta e lançada em 2003 num disco homônimo. Foi feita como um espelho, eu falava da minha própria vida que estava renascendo depois da separação da mãe do meu primeiro filho. Depois de uma fase muito triste, esse disco e essa canção saudavam um novo tempo, uma nova vida, um novo sol, tudo novo. É muito curioso que vinte anos depois essa canção ganhe um sentido tão imenso, sendo o tema do sonho do Davi, o bombeiro que constrói instrumentos com madeiras de rescaldo dos incêndios que apaga. Esse subtenente pensou primeiro em usar as madeiras queimadas do museu para leiloar os violões que ele faria… tudo para ajudar o museu a se reerguer… é muita beleza pra um coração só. Reunimos um grupo em torno dele e levantamos tudo, da burocracia ao filme, da oficina às entrevistas. Realizamos um sonho conjunto e aprendemos com sua metáfora. Todos nós precisamos renovar nossas vidas muitas vezes.

MaisPB – Vai cantar quase tudo, desde os primeiros sucessos, lá do início da década de 90?

Paulinho Moska Sim, tem canções de todas as fases, as mais conhecidas estão no repertório. Afinal de contas foram elas que nos aproximaram, elas são o nosso diálogo, nossa troca, nosso abraço. Adoro escutar o público cantando, é como se fizessem para mim a mesma pergunta que fiz à eles.

MaisPB – Maria Bethânia gravou Saudade, (com Lenine) que é uma canção linda, sua e de Chico César. Vamos falar sobre esse single? Aliás, me parece que você tem outras canções com Chico César?

Paulinho Moska Tenho só mais uma inédita com Chico, que fizemos no Uruguai. A canção “Saudade” foi gravada primeiro por Bethânia, porque quando estávamos compondo pensamos imediatamente nela. Chico disse: – Maria vai adorar esse tema… então todas as frases tinham que passar pelo crivo dela. Bethânia gosta disso? Fica. Bethânia não gosta? Sai. A gravação dela com o Lenine é linda. Depois, eu gravei minha versão junto com o Chico no meu disco duplo “Muito Pouco”, de 2010. Foi uma canção escrita a quatro mãos, eu e Chico dividimos a música e a letra, fizemos tudo junto.

MaisPB – Gal Costa também gravou “Unhas e Cabelos”. Como você, um artista jovem, com seu lugar destacado, emplacado, lembra da ausência da cantora baiana que morreu há menos de um ano?

Paulinho Moska – Não sou tão jovem assim, Gal foi a principal voz feminina da minha juventude, ao lado de Bethânia, Elis, Baby Consuelo, Elba… um país de mulheres intérpretes que levaram muita poesia pros nossos ouvidos juvenis. A perda de Gal é a perda de um brilho singular, de um timbre que tinha a cara do Brasil, da MPB clássica, da música sofisticada e popular que o Brasil produziu nos anos setenta. Ela era a melhor intérprete de Chico Buarque, de Caetano, de Moraes Moreira… sua interpretação era tão autoral que a gente acreditava que a canção tinha sido escrita pela Gal, mesmo ela não sendo compositora.

MaisPB – A cantora paraibana Elba Ramalho também gravou Paulinho Moska. Fala aí?

Paulinho Moska Elba é maravilhosa, sempre foi. Uma gigante do palco, outra intérprete autora, com uma assinatura tão distinta e ao mesmo tempo composta de tantas culturas acumuladas em sua nordestinidade latente e explosiva. Quando ela gravou “Relampiano”, minha parceria com Lenine, foi como um presente da natureza. A canção parecia ter sido feita pra sua voz. Adoro a geração dela, com Zé Ramalho, Alceu Valença, Geraldinho Azevedo, Belchior, Fagner, Ednardo… são ídolos da minha juventude.

MaisPB – Vinte anos do lançamento do disco “Tudo Novo de Novo” e foi aí que você amarrou a relação com artistas da América Latina, gravando A Idade do Céu, uma versão para “La Edad del Cielo” do uruguaio Jorge Drexler. Vamos falar dessa sacada?

Paulinho Moska – Foi essa canção do Drexler que abriu o portal latino na minha vida. Através dela e dele minha trajetória artística ganhou um desvio sem volta, a estrada não foi mais a mesma. Eu nunca mais parei de produzir projetos hermanos. Na minha série Zoombido entrevistei mais de vinte cantautores latinos. Na série “Tu Casa es Mi Casa”, que apresentei na HBO, estive em doze países entrevistando cientistas latinos. E tenho feito shows na Argentina e no Uruguai com frequência. Novas curvas derivadas desse primeiro encontro me levaram a lugares novos e pessoas transformadoras. Hoje, tenho muitos amigos espalhados pelo continente, conheço muita música diferente, muitos estilos e ritmos distintos.

MaisPB – Lembro também quando entrevistei você e o argentino  Fito Paez, ( para o extinto impresso Correio da Paraíba) e Fito  tem muita grandeza, que resultou num disco chamado  Locura Total” “. Vamos falar dessa parceria?

Paulinho Moska – Meu disco com o Fito “Locura Total”, é de 2015. Nós não nos conhecíamos pessoalmente quando a Sony nos propôs um disco autoral juntos. A ideia era compor dez canções juntos e gravá-las. E assim fizemos, em quatro encontros (na Argentina, no Rio e na Bahia). Escrevemos as canções em dias divertidos, de muita conversa, muita comida, bebida e alegria. Sobretudo, o prazer do desafio de compor canções com alguém que não era íntimo, mas acho que nós dois fomos generosos um com o outro, e tudo fluiu muito bem. Adoro o disco, as faixas, a sonoridade. Fito e eu temos personalidades muito diferentes, mas somos muito parecidos no quesito criatividade… nós pegamos fogo, cada um do seu jeito. Somos apaixonados por criar, a criação é nosso parque de diversão.

MaisPB– É tanta coisa para perguntar a Moska, tantos sucessos em novelas, nas cidades, na boca do povo, né?

Paulinho Moska – É a vantagem de envelhecer… vai acumulando um tijolo aqui, outro ali… de repente você tem uma obra construída com o tempo. Sempre acreditei que a vida era sinônimo de obra. Tem que estruturar, usar o cimento certo, deixar secar, colocar o piso, as paredes, o teto… depois pode morar na casa. Acho que foi isso que eu fiz.

MaisPB– E aí o que Moska faria se só lhe restasse um dia?

Paulinho Moska Eu já faço, procuro melhorar. Cada dia é único, cada dia é o último. Tem que afirmar o amor e o bem o tempo todo, a cada segundo, a cada instante. Só assim a gente olha pra trás e vê aquela sucessão de instantes felizes, o passado bem vivido. Desse jeito o futuro chega feliz também.

Confere aqui o videoclipe do artista com Chico César