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MÁGOA

Rastros de ódio tomam conta do Comitê da Fifa

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publicado em 21/03/2012 ás 08h47

O ex-presidente da CBF e do COL (Comitê Organizador Local da Copa 2014) Ricardo Teixeira anunciou nesta terça-feira 20 que também deixa o Comitê Executivo da Fifa – ele estava no orgão desde 1994.

O motivo: o Comitê Executivo da Fifa é a mais alta instância da entidade que controla o futebol mundial. Só quem faz parte dele pode se candidatar a presidente, que era o sonho de Ricardo Teixeira – ele concorreria contra Joseph Blatter em 2015.

Aqui cabe uma contextualização sobre o deus-nos-acuda que é o comando da Fifa.

Quando presidente da entidade, João Havelange costumava dizer que a instituição era uma família do futebol, frase repetida a torto e a direito por seu sucessor, o suíço Blatter. De família, só se for aquelas da máfia, porque nenhum dos principais personagens dela gostam uns dos outros.

Vejamos. Em 1994, João Havelange tinha relações cordiais com Blatter, mas este último achou que poderia derrota-lo nas eleições. Articulou na surdina para que conseguisse derrotar Havelange, pelas costas deste último. Idoso, porém ainda muito influente, Havelange conseguiu debandar a tentativa de Blatter, que sempre declarou tudo não passar de futrica da imprensa. Não era. E desde então Havelange passou apenas a aturar Blatter.

Em 1998, no novo pleito da Fifa, o sueco Leonard Johansson iria sair candidato. Trata-se de figura rara na política do futebol mundial, pois tinha fama de honesto. Na sua candidatura, prometeu vasculhar abusos de Havelange na entidade. Havelange rapidamente engoliu o orgulho e se juntou a Blatter, supostamente conivmente com as maracutaias que Johansson gostaria de investigar. E Blatter venceu.

Ricardo Teixeira é genro de Havelange e sonhava seguir os passos dele – foi presidente da CBF e queria mandar na Fifa. Era aliado de Blatter até que, nas últimas eleições, resolveu apoiar o catariano Mohammed bin Aman, que bancou uma candidatura contrária a Blatter. O suíço ficou furioso. Aman declarou, na campanha, que havia compra de votos, e Blatter ficou duas vezes mais furioso. Conseguiu caçar a candidatura de Aman e concorreu sozinho, obviamente vencendo o pleito. O efeito colateral: Teixeira passou a ser inimigo de Blatter.

Outro personagem importante na Fifa é o atual secretário-geral da Fifa, o francês Jerome Valcke, aquele um do chute no traseiro. Este é odiado por Blatter, o presidente. É. Valcke era um reles repórter francês e, por saber demais, acabou virando cartola importante na instituição. Ele tem Blatter na manga. Valcke chegou a ser demitido por suspeita de corrupção, mas, como sabia demais, foi readmitido e… eleito secretário-geral.

Então tem-se aí uma situação que remete ao poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade, só que ao contrário: Havelange que odeia Blatter que odeia Valcke que, no entanto, é aliado e amigo pessoal de Ricardo Teixeira (e todos odeiam Johansson, claro). Acontece que ficar ao lado de Valcke e não de Blatter acabou sendo um tiro no pé do brasileiro. Para o bem do futebol, Teixeira jamais será presidente da Fifa. Não que os nomes que hoje lá estão sejam melhores.
 

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