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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Gooolaçoaçoaço. Meeendonça, camiiiisa número 7!

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publicado em 24/11/2023 ás 07h00
atualizado em 23/11/2023 ás 16h45

 

Do velho rádio lá de casa eu nem falo. Tinha três metros de comprimentos, precisava de seis ou oito pilhas e só funcionava quando batíamos na sua bunda ou quando enfiávamos algum palito de fósforo em suas sutilezas mais profundas.

Falo do rádio novo  de padrinho Antônio, o meu cunhado. Era cem vezes menor e não tinha a potência que tinha o meu antigo rádio de mil anos, quando expelia, ainda que com tosse brava, a poderosa voz de Jorge Cury:

Gooooooooooolaçoaçoaço….Meeeeeeeeeendonça, camiiiiiiiiiisa número 7!

Porque o velho radio já morria nos infortúnios da velhice, o rádio de padrinho Antônio servia muito bem para eu assistir aos jogos de futebol na Rádio Globo. Comecei torcendo pelo Vasco da Gama, mas quando o clube da cruz de malta enfrentou o Botafogo, o nome daquele time que botava fogo pelas ventas tomou conta da minha mente e coração.

Cheguei tarde. O Botafogo deixara as suas campanhas gloriosas para trás e conquistava novos torcedores pela fama, não por títulos e conquistas. Tirando a alegria de 1995, quando conquistou o campeonato  brasileiro,  nada, a não ser os arroubos da fumaça outrora expelida do vulcão adormecido : Bo-ta-fogo-go!

Eu tinha doze anos. Já começava construir minha fama de excelente driblador nos campinhos esburacados de Areias, Cafundo, Várzea de Cacimba e Fazenda Nova, onde ainda reinavam, absolutos, deuses da bola,  Caititu e Toinho Mathias ( Paturi).

Então, durante as partidas e, depois, para adormecer, talvez, porque na zona rural em que morávamos não restavam melhores alternativas, era preciso sonhar com qualquer coisa. Padrinho Antônio sonhava com diamantes e, pela manhã, contava o sonho para quem quisesse ouvir.

Eu também sonhava. Silencioso. Dentro do Maracanã, driblando um, dois, três, deixando-os vencidos, a baba de Waldir Amaral escorrendo pela boca, bola colocada no cantinho, goleiro caído: gol, gool, gool, golaaaaçoaçoaçoaço!

A vida era assim, naqueles tempos.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB