João Pessoa, 07 de fevereiro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Depois de uma temporada de aprendizagem na incubadora do jornal O Norte, cheguei à redação de A União para, efetivamente, iniciar as atividades de repórter e desse jornal jamais me afastar.
No ano de 1979 Agnaldo Almeida era o editor-chefe e, estando eu acompanhado de Nathanael Alves, então diretor-presidente de A União, fui entregue aos cuidados daquele que, a partir de então, se tornaria timoneiro de minhas andanças pela arte de fazer jornal, dando-me régua e compasso para produzir as reportagens e os textos.
Quatro pessoas foram fundamentais para consolidar a minha vontade de ser jornalista e de escritor. Nathanael completou sua viagem pelos Cosmos, Gonzaga Rodrigues, Evandro Nóbrega e Agnaldo estão a revelar novos passos, com o abraço, reafirmando a amizade sincera que se prolongou.
Na noite em que Agnaldo Almeida recebia homenagens patrocinadas pelo projeto cultural Pôr do Sol Literário, na Academia Paraibana de Letras, meu pensamento se voltou para a tarde em que Nathan me levou até a redação do jornal, na época situada à Rua João Amorim, e ao apresentar-me para Agnaldo Almeida, disse:
– Gostaria que este caboclo de Arara ficasse por aqui. Peço que você tenha paciência com ele, orientando-o.
Em pé por trás da mesa repleta de papéis, Agnaldo estendeu as mãos, selando uma amizade alimentada por gestos fraternos.
Desde aquele dia não tenho feito outra coisa senão admirar o amigo que ganhei a partir das sementes plantadas nas redações. Anos depois, atuamos juntos em O Norte. Ele diretor e comentarista político, e eu, na época, editor de páginas.
Merecidas homenagens essas do Pôr do Sol Literário porque Agnaldo se fez merecedor. Procedente de Campina Grande, moldado à luz da melhor literatura clássica e da poesia revelador da alma, depois de uma curta temporada no jornal Correio da Paraíba, Gonzaga o arrebatou para A União. A direção do jornal oficial montou uma equipe diferenciada, marcando época, que logo fez sucesso. Até hoje lembrada como um marco no jornalismo paraibano.
Agnaldo ajudou a compor nosso espólio na Imprensa. De A União dos anos de 1980, arca e rochedo, tenho boas lembranças.
Ao saudá-lo por nós, aprendizes de antes e admiradores de hoje, Luiz Carlos do Nascimento, igual a mim gestado na redação comandada por Agnaldo, lembrou como éramos acolhidos, orientados na coleta da informação, na elaboração do texto e na fidelidade às fontes. Dele, Lula Mainha herdou os trajetos do falar e do escrever. Enquanto eu, recolhi os modos de escutar e de escrever de modo simples, e sem adjetivar.
Devo favores a Agnaldo que não consegui retribuir. A tudo que fez por mim, tributo a extensão da amizade que nos reunia em torno de Nathanael e de Gonzaga.
Nomeado secretário de Comunicação do governo de Ronaldo Cunha Lima, me chamou para acompanhar em Palácio da Redenção a agenda de compromissos do governador. Até hoje não entendi esse gesto generoso que me trouxe alegria e exigiu maior compromisso profissional.
Homem moldado pela mística que estabelece roteiro fascinante de vida, alimentado pelas artes e pelas leituras – mandava que lêssemos Flaubert para descobrir a pureza do texto -, pouco tempo depois pediu para sair do governo. Fui mensageiro da carta em que pediu seu desligamento do governo. Certo dia, pela manhã, solicitou que fosse à sua casa porque precisava falar comigo. Lá chegando, me passou a carta para entrar à secretária particular do governador, Danuza Azevedo. Mandou que a lesse, mas não comentasse com ninguém.
Para Agnaldo, nossa reverência. Nossa gratidão. Nosso agradecimento.
OPINIÃO - 22/11/2024