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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

Descansando em Paz

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publicado em 28/02/2024 ás 07h56

Tenho um medo danado de ser enterrado. Ainda estão bem frescas na memória as lendas urbanas que ouvi quando criança, dando conta que várias pessoas foram sepultadas sem estarem realmente mortas. Dias depois, foram abertos seus ataúdes. Lá estavam os infelizes, em posições diferentes das que foram arrumadas. Falavam até de um famoso ator. Desde então, esse medo irracional toma o pensamento, nas raras vezes em que me lembro da minha finitude.

Não gosto nem de imaginar a agonia de alguém, despertando de um sono profundo, e se vendo dentro de um caixão apertado, sob sete palmos de terra. Momentos de puro terror.

Confesso que fiquei aliviado quando a prática da cremação foi introduzida na Paraíba. Pronto. Meus problemas póstumos estavam resolvidos. Já pedi aos familiares, em algumas oportunidades, que escolhessem esse destino para mim, uma vez que não poderei opinar na hora, por razões óbvias. Por via das dúvidas, reitero aqui, agora por escrito, esse meu – desculpem o clichê – último desejo. Sem querer abusar da boa vontade, peço ainda que se livrem das cinzas o mais breve possível. Nada de ficar guardando em pote, por mais refinado que seja, em algum nicho da casa.

Conversando sobre o tema, alguém indagou: mas, se o medo é esse, ser queimado vivo não é pior? Bem, primeiro, já estabeleci desde o começo que o medo é irracional. Não tem lógica, portanto, não é passível de explicação. Segundo, suponho que a agonia de ser incinerado seja mais rápida que a de ser enterrado vivo. E, terceiro, nunca gostei de cemitérios. Nem dos mais badalados, como o Père-Lachaise ou da Recoleta , nem do nosso tradicional Senhor da Boa Sentença, aqui mesmo na terrinha. Passo ao largo desses locais.

De uns tempos para cá , surgiram cemitérios com pretensões de serem mais agradáveis: imensos gramados, muito bem cuidados, e sempre verdinhos de dar gosto, coisa para finado nenhum botar defeito.

Desses é que eu quero distância mesmo.

As obrigações sociais, a amizade e a consideração com alguns viventes me fazem comparecer a inevitáveis sepultamentos em tais campos santos. Nessas oportunidades, descobri algo tenebroso. As covas ficam a centímetros umas das outras. Um verdadeiro horror. Naquele que seria , talvez, o único momento em que teríamos a total privacidade, perseguida por toda a vida e só alcançada na morte, corremos o risco de ficar bem juntinhos de algum desafeto, uma pessoa desagradável, um chato de galochas, alguém que evitamos em vida. Eternamente.

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