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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Idade é só um número

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publicado em 20/04/2024 às 07h00
atualizado em 20/04/2024 às 04h56

Eu já nasci velho, mas a imperatividade falou mais alto  – consegui ultrapassar fronteiras. Quem nasce no sertão passa pela infância rapidinho e, já com dez anos, sem os mimos que nunca tive, me sentia adulto.

Foi bom demais ter ido na festa dos 90 de Luiz Nunes,  o severino sertanejo mais pop do pedaço. Um cara inteiro. Me senti um menino, eu e a escritora Ângela Bezerra, que tem 80 anos.

O nascimento da gente, tão inesperado não tem idade.  Sequer, a morte. O amanhecer não tem idade –  pode parecer que o tempo seja o guia, mas quem precisa de guia somos nós.

Em dado momento da festa, Luiz Nunes falando sobre as filhas e, da sua mesa, Ana Márcia, sem a palavra estar facultada, disse pra todo mundo ouvir: “eu sou  a mais velha” e o pai emendou: “não, você é a primeira”. Nunca vi tamanha cumplicidade…

Quando a terra cora, a luz do mar anuncia que logo chegará à noite, mas a noite é uma criança, num é Luiz Nunes? Tenho saudade do tempo que  encontrava LN nas caminhadas desvirginando a madrugada.

Os dias não envelhecem, nós é que ficamos cansados de tantos dias, ave maria!

Em todos as festas, o aniversariante sacode de alegria – foi exatamente o que Luiz Nunes fez:  dançou conforme a música – elegante, um menino roubando a cena das filhas, Martinha, Mércia e Ana Márcia e dos netos Sarah e Pedro.

Antecipando o regozijo, felizes os quem chegam aos 90 anos dançando – eu adoro dançar.

Há tempos não via uma festa assim, muita gente bacana, os convidados eufóricos, a encher o salão, como se dançavam antigamente nos clubes, boleros, carnaval, coladinhos ou cada um no seu jardim; as cantorias e as árvores da vida, pai, mãe e irmãos.

Sou do tempo em que cidade era toda da gente.  Não foi diferente na festa de Luiz Nunes. Lá haviam palmas, vivas à liberdade, porque viver é isso, ser livre, inclusive, aos 90 anos.

A idade é um número, são voos infindos, sonhos e despedidas.

 Foi bonita a festa, pá.

Kapetadas

1 -Eu já fiz tantos anos que me esqueci quantos anos tenho.

2 – Pra descontrair – revelado: morto no banco era ação publicitária da nova temporada de The Walking Dead. Cliente morto não paga, mas empresta.

3 -Fotos – Tarcio Viana

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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