João Pessoa, 05 de maio de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Acordei ontem com uma vontade imensa de comer ceviche. Era feriado e soube que a feira livre estaria aberta e poderia começar minha missão de encontrar cebolas roxas para o feitio da clássica receita peruana.
Chegando lá, tinha uma banca pintada de verde com poucas cebolas brancas e raras cebolas roxas. Saí apressado em direção às moçoilas roxas pois seria a quantidade perfeita para o ceviche e ninguém mais poderia me deter diante daquela escassez.
Quando encontro o preço de 16 reais e 16 centavos, gritei: ISSO É UM ASSALTO!
Nesse momento, foi tudo rápido, pegaram minhas 16 cebolas roxas que restavam dentro do caixote de exposição e as levaram para outro local. Eu fui imobilizado e levado por um moço que devia ser segurança do local para um beco enorme e vazio. Dezesseis minutos depois, uma mulher mais velha veio e nos disse para segui-la pois nos levaria para uma barraca vip.
Chegamos a um corredor onde havia muitas pessoas que estavam sendo revistadas e de repente ele nos disse:
“Corram, corram, deixe suas sacolas e bolsas aí no canto e passe rapidamente por aquela grade azul!
No meio da confusão, após passar o portão sujo, encontramos uma sala de 16 por 16 metros com painéis de vidro opaco em dois lados e com apenas um lado da porta transparente, mas com película gasta cor de vinho.
Eu, perplexo e sem acreditar no que estava acontecendo, procurei um lugar para sentar, mas os bancos estavam quebrados.
Após algumas horas, chegou um policial calvo e calmo que disse em voz baixa que ninguém ali poderia mais reclamar do preço das verduras e leguminosas.
Todo aumento era parte de um plano do governo federal para evitar risco de infecção da gripe verde. Uma espécie de gripe pior que a cólera.
Deram cerca de 16 litros de água “ozonizada” para todos os presentes, distribuídos em sacos transparentes e descartáveis que se esgotaram rapidamente; não nos trouxeram mais, apesar de tanta reclamação de sede naquele calor infernal.
Nos contaram que seríamos os primeiros a saber desse fato horroroso e que, com menos oferta e preços mais altos, menos pessoas comprariam legumes e hortaliças nas feiras e mercados, resultando menos contaminação.
Só que o tempo passava, o suor escorria pelas costas, as madames estavam sem maquiagem e já era noite.
Chegou uma sopa de carne, quase que somente água e carne, sem acompanhamento, mas com 16 pães dormidos que saciava a fome de todos, pois pelo montante farto, devia ser resto de uma padaria que acabara de fechar as portas.
Não consegui saber a hora, ninguém dormiu, eu comecei a chorar achando que estava num filme ou precisamente perto de morrer.
Exausto, acordamos às 16 da tarde pelo deitar do sol no horizonte, com pessoas chorando, outras gritando reclamando de dor na coluna do período mal dormido.
Uma surpresa ocorreu dentro do banheiro fétido. Abriu-se uma outra porta, todos saímos correndo por uma saída secreta que dava numa Van. O automóvel era blindado e recebemos uma xícara de café cada. Ali notei que nenhum de nós nos conhecíamos e nada de comum nos ligava, pior mesmo se tratando de idade.
Uma senhora de beca nos explica que passaríamos duas horas e 16 minutos recebendo instruções e ensinamentos e que cada um teve seu familiar avisado e que seríamos todos entregues de porta em porta.
Agora cada um teria uma meta, um trabalho sério e árduo no combate à gripe mais devastadora dos últimos tempos.
Assim que cheguei em casa, a porta já estava aberta, fui em direção ao quarto, pois não encontrei a Maura, daí adormeci. Horas Tempo depois, acordei, era minha esposa chegando da feira-livre, gritando: ISSO É UM ASSALTO! você viu? Cebola roxa a quase 16 reais, o quilo?
Me entregou 16 unidades de cebola roxa resmungando que eram as últimas da banca de tabuleiro verde.
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