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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Deixa que digam

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publicado em 19/05/2024 às 09h11

Sabe quem foi o primeiro rapper do Brasil?  Não preciso dizer que a semana passada, completou dez anos da morte de Jari Rodrigues. Não, isso fica para os críticos de música do XX, com seus textos alongados, cansativos.

Quem chamou minha atenção foi Lívia Nolla, pesquisadora musical, que aponta ter sido Jair Rodrigues o primeiro a cantar um rap brasileiro  – e quem disser o contrário, vai ter que provar na delegacia.

Segundo Lívia Noll, foi ele o precursor do gênero ao lançar – com versos mais declamados do que cantados – a canção “Deixa Isso Pra Lá” (de Alberto Paz e Edson Meneses), lançada no seu segundo disco: “Vou de Samba com Você”, de 1964.  Com essa canção, acompanhada da coreografia das mãos, que eu tento imitar e não consigo – Jair Rodrigues atingiu sucesso geral e tornou-se conhecido nos 4 cantos.

JR  explodiu  na Rádio Cultura e tornou-se crooner, cantando em casas noturnas de São Carlos, em meados da década de 50. Já no seu primeiro álbum – “O Samba Como Ele É” – lançado no ano de 1963, traz a antológica canção “O Morro Não Tem Vez”, de Tom Jobim e Vinícius de Moraes. É linda: “O morro não tem vez, mas se derem vez ao morro, toda a cidade vai cantar”

Cantor e intérprete talentosíssimo e irreverente, Jair Rodrigues é sim, o primeiro rapper brasileiro.  Depois de “Deixa Isso Pra Lá”, que a gente costuma dizer em diversas situações para evitar encrenca, (que Caetano Veloso cantou um trechinho no final da letra da canção “Língua” (1984), JR bombou total.

O artista venceu o II Festival da Música Popular Brasileira em 1966, defendendo a canção “Disparada”, (de Geraldo Vandré e Théo de Barros), numa interpretação fantástica, (basta procurar  no YouTube ao lado do Trio Marayá e do Trio Novo). É uma loucura, viu?

Na pesquisa que fiz, o júri havia dado o primeiro lugar para a canção A Banda, de Chico Buarque – interpretada por ele e Nara Leão. Só que Chico, não aceitou vencer de Jair, ele achava que a música interpretada pelo colega era melhor que a sua (e havia uma grande aclamação do público também, que gritava disparado: “Disparada, Disparada” Chico Buarque disse que se não dessem o prêmio para Jair Rodrigues – não aceitaria o seu. No fim, o júri decidiu por empate técnico. Deixa que digam!

Se eu gosto de rap? Não sei, acho que sim, mas o que me impressiona é quando eu pergunto a uma pessoa,  se ela sabe quem foi Tom Jobim, Aracy de Almeida, Cartola, quase ninguém sabe. Deixa que digam!

Às vezes canto pelas ruas “Aqui é o fim do mundo”  e uma pessoa, outra pergunta: de quem é essa canção? Eu sempre digo, é de Frank Sinatra.

Pois é, “Deixa Isso Pra Lá”, talvez não tenha menor importância ou você pode pensar que eu estou sem tema, mas eu nunca tenho tema, nem paciência para conviver com os cafonas e desinformados.

Bora cuidar – “Deixa que digam, que pensem, que falem, deixa isso pra lá, vem pra cá, o quê que tem? eu não estou fazendo nada, você também, faz mal bater um papo, assim, gostoso com alguém?”

É, deixa isso pra lá.

Kapetadas

1 – Somos o país pobre mais rico do mundo.

2 – Previsão do tempo – indeterminável.

3 – “Cuide bem de você, não sofra sem necessidade.” Caio Fernando Abreu

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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