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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Felicidade é uma coisa muito grande

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publicado em 10/06/2024 às 07h00
atualizado em 09/06/2024 às 17h22

“Felicidade é uma coisa muito grande. Não existe felicidade. O que existe são momentos de alegria.” Frase atribuída a Rubem Alves. Fico pensando… se não existe felicidade, de onde surgiu tal conceito? Qual sensação fez surgir o termo? O que vem a ser o tão falado e perseguido “estado de felicidade”?

Etimologicamente, é fácil descobrir. Do latim felix, significa produzir, com a conotação de fecundo, produtivo. Sumariamente, isto me faz pensar que a sensação de felicidade está mais próxima do conceito de DAR do que do conceito de RECEBER. Sou fértil. Sou produtivo. Conceito totalmente autônomo. Podemos construir nossa felicidade a partir da nossa entrega.

Todavia, o conceito experimental de felicidade não é universal. Ele existe a partir de percepções individuais. Por exemplo, para alguns, ser feliz é ter, possuir, comprar. Ter uma vida cheia das coisas belas, caras, extraordinárias e confortáveis que o dinheiro pode proporcionar. Algo parecido com o estilo de vida do homem médio norte-americano. O perigo de tal percepção é que, às vezes, a vida nos deixa sem alternativas. Fecha portas que impossibilitam esse “bem viver feliz”, o que pode nos colocar em estado de apatia, melancolia, tristeza profunda, frustração. A vida fica insípida, pois a felicidade não depende de mim, neste caso. Está totalmente fora do meu controle.

Pensar de forma imperativa e categórica que devemos ser felizes a qualquer custo pode ser perigoso, pois alguns custos podem ser altos demais. A felicidade não pode ser o fim principal da nossa vida. Mas, a partir do momento em que buscamos viver um estilo de vida que honre a nossa condição de humanos, cumprindo os nossos deveres, servindo ao nosso propósito em todos os papéis que representamos – filhos, pais, companheiros, amigos, profissionais – sendo fecundos, doando-nos, a felicidade para a ser um subproduto da nossa existência. Uma consequência, por assim dizer. A sensação de dever cumprido. O “sono dos justos”. A sensação de calma, paz e bem-estar, de saber que tudo está onde deveria estar. Sendo o que a natureza espera que nós sejamos. Frutos da terra, tão fecundos quanto ela.

Saibamos diferenciar nossos momentos de alegria – aqueles recheados de dopamina, proporcionados por toda a sorte de mãos mecânicas que o mundo oferece – daqueles momentos de felicidade verdadeira. A felicidade humana gerada pela tranquilidade de estarmos “sendo humanos”, cumprindo nosso papel, com nós mesmos, com o outro, com o mundo à nossa volta. Está em nossas mãos.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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