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A cidade das pedras infinitas

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publicado em 03/07/2024 ás 07h00
atualizado em 02/07/2024 ás 18h58
Uma viagem que não fiz, mas amigos tantas vezes repetiram as belezas que terminei recordando outras oportunidades quando em Aroeiras depositei meus pés e meu olhar. Faz muito tempo, mas o período não era diferente deste de agora quando o Sol tostou a babugem que a brisa noturna havia ajudado a brotar.
Foi numa manhã quando a poeira da estrada dificultava a visão, a cada curva que o carro deixava para trás as pedras, os juazeiros, os mandacarus e o marmelo seco ficavam mais próximos. Guardei as imagens que o poeta Hildeberto revigorou com sua poesia. Seus versos e o relato dos amigos que visitaram a cidade trouxeram tempero às imagens que o tempo havia ofuscado.
Os versos do poeta que a terra construiu retornaram com as lembranças dos visitantes à Comarca das Pedras, paisagens ainda intocadas por mãos e a imaginação que não sejam do seu poeta. Ou pela Natureza audaciosa.
Na segunda vez que ali estive, ficou a visão noturna das estrelas ofuscada pela Lua que se derramava sobre pedras misteriosas que somente os poetas entendem. Pouco percebi porque o olhar vagava por vários espaços ao mesmo tempo buscando guardar num instantâneo o que ofereceria lugar.
Para falar daquele ambiente, nos poemas encontrei a louvação que não consegui transmitir com palavras, porque a supremacia que brota do silêncio das pedras alarga a inspiração, a alegria humana exalada no lugar mistura-se com a alegria espiritual. Quem a comtempla com os olhos do coração percebe a quietação que desce no galope do vento, morno e lento.
Somente o poeta entende esse aconchego e carinho que a paisagem daquela terra proporciona, como que a fazer cafuné em nós. Talvez seja sua maneira de recepcionar e cativar.
Sempre voltei a este lugar em período de Sol ou de Chuva, impulsionado pelos deveres profissionais, mas sustento a esperança de voltar, vagaroso e desprendido de obrigações, para colher as moções espirituais do silêncio que as pedras proporcionam.
Não quero lembrar o lugar como uma paisagem de solidão, mas de caminhos sensuais, que no Inverno encanta pelas flores que brotam em sua paisagem a partir da serra, ou no Verão com sua fragrância saindo das pedras e da terra queimada pela fúria do Sol.
Recordo que o poeta se regozija pelo presente da Natureza, e do alpendre de sua casa, degustando vinho tinto e tragando seu charuto cubano, contemplar as pedras iluminadas pela Lua, que também esbanja seu clarão sobre os telhados das casas.
Serraria me perdoe, porque tua beleza não tem parelha, mas os caminhos de Aroeiras no acompanhamento do Rio Paraíba são fulgurantes.  As pedras e rio ajudam-me a não esquecer o que o olhar colheu em cada esquina das ruas e nas veredas.
Meu desejo é cantar a cidade das pedras infinitas, como disse o cronista, e louvar o rio que a cidade espia por entre as serras enquanto vai vertendo o que resta de água para fazer brotar a vida e a inspiração do poeta.