João Pessoa, 21 de julho de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Por todos os lados casarões coloridos, nenhum em ruínas. Areia é uma cidade linda. Há anos que não ia lá. Fiquei sem esconder a emoção da redescoberta da cidade, ao entrar no Teatro Minerva, o palco, as coxias, uma obra histórica, inaugurada em 1859.
Foi em Areia que surgiu o primeiro teatro da Paraíba, o segundo, Santa Inês, na cidade de Alagoa Grande, e só depois, o Teatro Santa Roza, em João Pessoa.
Na fachada do Teatro Minerva está escrito – “teatro particular”, bancado por uma elite renovadora (filhos dos senhores do café), cuja renda servia para alforriar escravos (alguns ficavam escondidos nos porões) Isso já é motivo para um filme, um livro, diante de uma obra que está de pé, 165 anos depois.
É preciso conhecer as ruas de Areia e ter a experiência de condutor para perceber que nós, enquanto condutores, somos os personagens.
Andar a pé numa cidade pequena, com cenas do interior, lembrar desse olhar que hoje nos espelha para virar as esquinas de uma cidade subitamente bela. Pelas ruas e paralelepípedos somos nós estrangeiros ou nativos, que figuramos a geometria das cidades.
Areia lembra as ladeiras de Olinda, os encantos do Pelourinho, em Salvador; ruas de Ouro Preto, Recife e o Porto do Capim, em João Pessoa. São cidades de idades avançadas.
Areia, que surgiu como povoado em 1625, cidade do pintor Pedro Américo, do escritor José Américo de Almeida e do Padre Azevedo.
Areia é um prisma na serra da boa esperança.
Voltemos ao Teatro. No dia anterior, o sábado, o Teatro Minerva estava fechado – sorte nossa, que já estávamos nos despedindo da cidade, quando avistamos o teatro aberto. Pagamos e entramos.
O acesso a circular por cenas antigas de espetáculos que nunca vi, preencheram em mim a vontade de subir ao palco e representar o K. Me vesti da deusa Minerva e fiz uma cena brasileira cantando a canção Marginália II de Gilberto Gil e Torquato Neto: “eu, brasileiro, confesso, minha culpa, meu pecado, meu sonho desesperado, meu bem guardado segredo, minha aflição”
Estava ali no palco, atravessando as pegadas dos escravos, dos atores, das atrizes, das tragédias e dos expectadores da vida toda.
Quem será que pensou em colocar o nome de Minerva no teatro de Areia? Quem sabia de Minerva, e teve esse insight, esse acontecimento cognitivo que é o conhecimento, a intuição. Um insight é a perspicácia ou a capacidade de aprender muitas coisas.
O Teatro Minerva de Areia me levou para o Templo de Zeus, me fez viajar com Minerva, vestido de deusa pelas as ruas, os becos, nossas máscaras – lado a lado, uma que ri e outra que chora, surgindo a cada momento e não fazemos ideia com o que nos parecemos, apressados e nunca poderíamos saber que fomos, se fomos.
A descoberta feita por uns, por outros, tão poucos, sentidos e tocados de um modo que nem sonham sabem como se diz: obrigado, Areia pelo Teatro Minerva.
Aqui está meu voto de minerva.
Kapetadas
1 – Se todos os dias você tentar escapar da rotina, essa será sua nova rotina.
2 – Tem assuntos que são um prato cheio. Tem pratos cheios que é melhor desconversar
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