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Nos últimos anos a área de saúde tem demonstrado um maior interesse em pesquisar se há uma maior probabilidade de filhos de pais alcoolistas ou dependentes de outras drogas se tornarem também dependentes ou usuários abusivos destas substâncias. A maioria dos estudos, se ateve ao alcoolismo, haja vista ser o álcool a droga mais consumida.
Dois aspectos principais foram considerados para que os descendentes de dependentes químicos fossem estudados: o fato de a dependência normalmente desencadear uma série de disfunções no ambiente familiar e, a partir daí, a preocupação de como os filhos reagiriam ao impacto da citada doença; o segundo aspecto refere-se à própria necessidade dos pesquisadores investigarem o processo e as causas da dependência.
Dizer simplesmente, que um filho de um dependente químico, seja de álcool ou outra droga, se tornará, um dia, também dependente, é simplificar demais os fatores envolvidos na questão. Contudo, é importante admitirmos que há fatores relevantes que aproximam um jovem do risco, como, por exemplo, a própria disponibilidade da droga, ou seja, a facilidade do acesso à substância, a situação legal ou ilegal desta, a influência do grupo de amigos, a adesão ou não na escola, os aspectos psicológicos e, sem dúvida, a influência do meio familiar.
Muitos estudiosos deste tema concordam que os pais podem influenciar diretamente o uso abusivo de drogas em seus filhos por exposição à droga na fase pré-natal do desenvolvimento; proporcionar modelos negativos de papéis, em termos de uso de drogas como um mecanismo de adaptação; aumentar a disponibilidade da droga no lar etc.
O álcool, sem sombra de dúvidas, é a droga mais presente nos lares brasileiros – até mesmo no chamado mundo ocidental como um todo – e é sabido que a presença de um dependente não recuperado, desta e ou outra droga, na família, contribui para o estresse de todos os membros. É certo que cada membro familiar poderá ser afetado de forma diferente, pois, naturalmente, existe considerável variabilidade nas características de irmãos de qualquer família. Exemplo: duas crianças podem partilhar os mesmos pais biológicos e condições gerais de educação, e ainda ser profundamente diferentes nas suas dimensões psicológicas e de comportamento. É importante acrescentar que, o nível de disfunção ou de resiliência do cônjuge, não usuário, é um fator-chave nos efeitos dos problemas que causam impacto nos filhos.
Vários estudos científicos demonstram, por exemplo, que, os padrões alcoólicos dos pais e de seus filhos adolescentes e adultos estão altamente correlacionados. Entretanto, existe ainda considerável incerteza quanto à maneira pela qual o abuso de álcool paterno aumenta o risco de problemas de alcoolismo dos filhos. Algumas destas pesquisas avaliaram a qualidade do relacionamento entre pai e filho nas famílias com um genitor usuário abusivo de drogas. Os resultados sugerem que o uso abusivo de drogas por parte do pai pode se associar à diminuição do monitoramento do comportamento dos filhos. Essa faceta específica dos cuidados paternos, por sua vez, constitui um fator de risco para uma tendência a procurar substâncias psicoativas ou maior associação a companheiros que usam drogas e, portanto, ao uso de drogas entre os filhos.
Pode-se acrescentar que, todas as variáveis que podem afetar o efeito sobre a criança são desenvolvidas no âmbito das interações entre pai e filho; e a interação entre pai e filho caracteriza-se, primariamente, por duas dimensões paternas importantes: cuidados educacionais e controle. E assim, os transtornos em uma ou nas duas dimensões paternas podem causar efeitos de grande extensão sobre o desenvolvimento socioemocional e cognitivo da criança. Portanto, parece bem estabelecido que o ambiente familiar, em especial os efeitos dos cuidados paternos, exerce forte influência sobre o risco de uso indevido de droga e, consequentemente, de dependência química do filho.
Quando se trata da influência materna essa relação parece ser mais estreita, especialmente se a mãe faz uso de álcool e ou outras drogas durante a gravidez. Isso independe se a mãe é dependente da droga ou apenas usuária recreativa. É importante acrescentar que tais danos ao bebê, normalmente são bem menos frequentes quando suas mães interrompem o consumo da droga logo nas primeiras semanas da gravidez, mas, quando isto não acontece é comum a ocorrência de déficits de crescimento, anormalidades morfológicas, retardo mental e dificuldades comportamentais. E estes danos podem perdurar ao longo da vida do indivíduo.
Algumas pesquisas atestam ainda que, filhas de mães dependentes têm maior prevalência de abuso e dependência de drogas, fobias e pânico que seus irmãos. E que, um irmão mais velho pode influenciar um mais novo por meio de processos de modelagem, ou seja, o comportamento do filho mais novo segue o modelo do filho mais velho.
Portanto, é indispensável que a família esteja atenta a isto, e o poder público empreenda campanhas e ações educativas informativas em relação às consequências do uso indevido de álcool e outras drogas por parte dos pais e sociedade em geral. A prevenção é sempre um remédio mais barato e eficiente. E assim, a assistência às famílias, especialmente àquelas mais vulneráveis social e financeiramente, é indispensável, pois mesmo aquelas crianças que vivem em famílias vulneráveis, quando têm um bom suporte social, com boas creches, escolas etc., as chances de crescerem saudáveis física e socialmente são reais.
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TURISMO - 19/12/2024