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Marcone Simões lança “Os Simões  da Serra do Gabão” com histórias contadas pelo próprio pai

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publicado em 13/08/2024 ás 11h09

Kubitschek Pinheiro

NESTA sexta-feira, (16), o escritor paraibano Marcone Simões fará o segundo lançamento de seu livro “Os Simões  da Serra do Gabão” no Espaço Ferretto, na avenida Euzely Fabrício de Sousa, 210, às 17h, na praia de Manaíra. Caberá ao advogado e escritor Adelmar Azevedo Régis fazer a apresentação da obra. Haverá leitura dramática por Duina Porto, escritora e professora e Deise Ramos, escritora e e editora audiovisual.

Do politizado ao romanesco, “Os Simões  da Serra do Gabão” remete o leitor para um encontrou cara a cara, cara do mundo, ou se identificar com os personagens, que têm em si, algo do surrealismo fantástico, embora sejam brasileiros. que nem amam, nem se mandam – é o cinema falado, o teatro urbano, que o autor dá espaço nessa galeria de imagens e som.

Marcone Simões é performático, canta e toca piano, embora seja formado em Engenharia Civil pela Universidade Católica de Pernambuco, mas tem pós-graduação em Negócios do Cinema e da Televisão pela Fundação Getúlio Vargas, do Rio de Janeiro.

Foi professor de Marketing Cultural na Universidade Gama Filho e também ministrou aulas na área de Comunicação da Universidade Corporativa do Banco do Brasil. Produziu e participou de shows musicais, dirigiu documentários, foi curador de exposições e realizou diversos projetos culturais centrados na vida e obra de Santos Dumont, o que motivou o Ministério da Defesa lhe agraciar com a Medalha Mérito Santos Dumont. Marcone sempre está alçando voos.

Também como reconhecimento pela divulgação de seu mais famoso filho, a cidade natal do Inventor, Santos Dumont – MG, lhe concedeu a prestigiada honraria: a Comenda João Gomes. 

Publicou contos autorais, produziu e dirigiu vídeos educativos, realizou filmes de curta-metragem, incluindo nesse conjunto duas animações. Estudou roteiro para cinema no Brasil e no exterior. Estudou canto com Inácio de Nonno e piano na Escola de Música Proarte, no Rio de Janeiro., estudou dança Flamenca em Madri e foi aluno da Escola de Dança Espanhola Mabel Martín, no Rio de Janeiro.  Atualmente é aluno do curso de Arte da professora Zarinha.

Espaço K – Vamos começar por aqui – Todo esse material riquíssimo estava esquecido – Como veio a ideia de resgatar?

Marcone Simões Assim que aprendi a ler, eu descobri um mundo novo! Lia tudo que caía nas minhas mãos: jornais, revistas, livros didáticos e me deleitava com as histórias em quadrinhos de Walt Disney. Afora isso, gostava muito de ouvir meu pai contar as histórias da sua família ancestral, como a luta do meu bisavô contra duas serpentes e mesmos as fantásticas histórias dos fantasmas que habitavam a casa de um tio-avô. O livro reúne essas histórias pitorescas e outras tradicionais.

Espaço K – Então, conta pra gente?

Marcone Simões – Pois bem, aquelas histórias de família me encantaram tanto que na minha infância eu tomei uma decisão: um dia escreveria um livro contando tudo! Logo após concluir o curso de Engenharia Civil, em Recife, eu decidi que era chegada a hora de colocar todas aquelas histórias no papel. Liguei para meu pai e marquei o dia para tomar seus depoimentos. Foram três horas de gravação em fitas K-7, e meses depois gravei um vídeo de duas horas com mais depoimentos do meu pai ao lado do seu irmão, meu tio Neomízio. Aconteceu que dias depois fui morar no Rio de Janeiro, e acredite, eu guardei esse material por 25 anos até que, durante o lockdown da pandemia, mexendo nas estantes de livros, eu me deparei com uma caixa de sapatos contendo cinco fitas K-7 e duas fitas de vídeo VHS. Foi nessa hora que tomei uma atitude e comecei a escrever o livro que ficou pronto em apenas quatro meses. Quando recebi o livro impresso, fui tomado por uma forte sensação de dever cumprido: preservar essas histórias tinha uma grande importância para a família, mas acima de tudo senti que estava preservando um pedaço da memória do nosso Nordeste!

Espaço K – O título é bem adequado para o livro –  Os Simões  da Serra  do Gabão. Vamos remontar esse cenário?

Marcone Simões – Meu bisavô, o Capitão Simões (Patente de Capitão da Guarda Nacional) possuía uma extensa faixa de terra na região onde a Mata Sul de Pernambuco encontra o Agreste. A propriedade se estendia pelos atuais municípios de Quipapá, Jurema e Panelas, e pelos antigos distritos de Pau Ferro e Queimadas. Ali se encontrava um verdadeiro santuário ecológico: a Serra do Gabão. Esse local, segundo vários depoimentos, era reservado para as caçadas periódicas do Capitão Simões e ninguém podia extrair absolutamente nada de lá. Era uma mata fechada onde a fauna e flora local espalhava-se abundantemente além de servir de pouso para aves migratórias, devido à fartura de alimentos e inúmeros espelhos d’água. Como a Serra do Gabão era o local preferido do Capitão Simões, resolvi homenageá-lo dando esse título ao livro.

Espaço K –  São tantos personagens: Pai Simão, Belmiro e Dedé, a destacada Maria Brás e muito mais. Todos existiram, né?

Marcone Simões Sim, absolutamente todos existiram. Nas últimas páginas do livro temos um esboço da árvore genealógica dos Simões onde citamos apenas aqueles que aparecem na narrativa com o intuito de situar o leitor. Pai Simão é o Capitão Simões, isto é o Capitão Antônio José Apolinário Simões. A ruiva Dedé, minha avó que tinha os olhos azuis como meu pai, casou com Belmiro. A história desse desse casamento ocupa um dos capítulos do livro.

Espaço K – Você disse que eram histórias contadas e recontadas pelo seu pai. Podemos falar dessa encenação, situar o autor do livro nesse cenário?

Marcone Simões Com prazer, pois essa é uma doce recordação que tenho daquele homem de voz forte, sentado na cabeceira da mesa, diante dos seus dez filhos, contando a saga da sua família, diariamente, após o jantar. Aos poucos fui guardando os nomes de familiares e fui ampliando meu repertório de causos. Descobri que vinha de uma família de católicos fervorosos, aprendi como se fazia o açúcar, a rapadura e a cachaça. Memorizei algumas histórias de trancoso (contos da literatura oral nordestina). Na minha infância, vivi muitas aventuras na casa grande do Engenho Laranjeiras. Quando tinha seis anos quebrei uma perna fazendo estripulias, como fazem os meninos de engenho.

Espaço K – Seu livro “Os Simões  da Serra  do Gabão” é formado de pequenos contos. Tem algo de achado, de Nelson Rodrigues… Posso pensar assim?

Marcone Simões – Diria que me enquadro na tradição nordestina de contar histórias. Cada capítulo é um causo, uma história completa. Mas falando em Nelson Rodrigues, posso dizer que todas as minhas narrativas retratam o cotidiano de uma época, e assim não deixa de ser um fiel retrato da vida como ela é. Tem uma sabor regional mas antes de tudo, temos aí um registro da vida de um Brasil de outrora.

Espaço K – Como aconteceu o convite para que o livro fosse lançado por uma editora fora do Nordeste e essa capa no estilo livro antigo?

Marcone Simões- Recebi convites para lançar o livro através de editoras do Rio de Janeiro, mas como desejava ter maior controle sobre o design, decidi publicar o livro de forma independente. Esse controle era para dar maior propriedade à edição. Como estávamos resgatando histórias tradicionais de família, pensamos num livro de capa dura. A minha Design Gráfica, que tem larga experiência editorial, sugeriu fazermos a lombada do livro em tecido e um box para proteger a obra. Esse box (chamado de luva) traz no seu revestimento a textura do tronco da jurema que é a árvore que dá o nome ao município onde ficava a sede do principal engenho do Capitão Simões. É assim que concebemos. Realmente parece um livro de outros tempos, mas é verdade que está recheado de histórias de outros tempos também!

Espaço K – Em “Pedra da Fé” tem uma coisa  bem brasileira, bem mundial –  as seitas. Vamos falar sobre isso?

Marcone Simões – Essa foi a pergunta mais difícil até agora! Esse assunto é polêmico por envolver a fé, e a fé, na minha concepção, é o lugar onde cada ser humano procura um canal para se conectar com o Divino, para falar com Deus: com o seu Deus… Quando pego um livro para ler, faço uma pausa ao final de cada capítulo e reflito sobre a narrativa. Vou tomar a liberdade de dizer que esse capítulo demandaria uma reflexão sobre a tolerância…

Espaço K – Qual é o personagem que mais mexeu com você? A mulher que morre? Maria Brás? O Padre? O Capitão Simões…

Marcone Simões – Diria que todos os capítulos mexeram muito comigo, precisamente com minha emoção. Algo muito mágico me acontecia ao longo da escrita do livro. À noite, quando me recolhia para dormir, eu era invadido por uma forte sensação de que as pessoas sobre as quais havia escrito estavam dentro da minha casa. Ao relatar esse fato para alguns amigos ficaram surpreso com os comentários. Alguns disseram que meus antepassados estavam ali mesmo, dentro da minha casa, me ajudando a escrever suas histórias…

Espaço K – As ilustrações de Cavani Rosas são perfeitas – vamos falar sobre isso?

Durante a escrita do livro juntei algumas fotografias de família mas não consegui as preciosas imagens do Capitão Simões e de outros ancestrais que foram perdidas numa inundação, em compensação recolhi documentos muito importantes como a Carta Patente de Alferes de um tio-avô, Antônio Simões Filho, assinada pelo Presidente Wesceslau Brás. Mas, como desejava que o livro fosse ilustrado, convidei Cavani Rosas para fazer uma ilustração para cada capítulo e o resultado foi um conjunto de imagens que muito me surpreendeu, pois tudo foi criado a partir do texto, sem minha interferência. Cavani Rosas dispensa maiores comentários: é um escultor e ilustrador pernambucano de primeira grandeza, com o qual tive a honra de desenvolver e realizar alguns projetos culturais, ao longo de décadas.


Espaço K – Já pensou em transformar esse livro numa peça de teatro?

Marcone Simões – Por ocasião da minha participação no “Salão do Livro Lusófono de Paris”, na Maison du Portugal, em março do ano corrente, encontrei uma atriz brasileira que dias depois de adquirir o livro me ligou e fez essa mesma pergunta. Ela disse que cada capítulo é um filme de curta-metragem. Achei interessante esse comentário porque possivelmente há alguma influência da linguagem do cinema na minha forma de escrever em razão de minha produção audiovisual e da minha pós-graduação em Cinema e TV. Então, os desdobramentos de um livro são surpreendentes. Quando lancei a obra em Portugal, uma senhora que esteve no lançamento me ligou, dias depois, para dizer que os banquetes oferecidos pelo Capitão Simões no Engenho Bananeiras tinha muito da tradição culinária portuguesa (olha aí nossa ancestralidade falando alto). Estou aberto às possibilidades pois a maior alegria do autor é saber que sua obra está interagindo com os leitores seja através do livro, do teatro, do cinema, de um diálogo, da vida!