João Pessoa, 01 de setembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não achei o livro, era aquele livro que falava de pouca emoção, descrevia uma cidade cheia de gente, mas de alma deserta e uma rua intransitável, simbolizando a sensação de vazio que muitas vezes acompanha as pessoas das metrópoles que vivem a repetir frases de elevador: ‘esse frio parece que não tem mais fim’ reforçando a ideia de um caminho sem saída, onde se combate a solidão falando com seu companheiro de viagem para um andar mais alto ou mais baixo. Outra frase é aquela que fala mal do trânsito. Hoje não se fala mais que não encontramos o livro na biblioteca ou o Cd na estante, pois a vida encontra-se em digitalização, lá no interior dizem que a situação atual está abrejada, não sei o real significado, mas gostei do termo e não quero procurar no google. Estava no meu quarto com o celular na mão procurando as publicações relacionadas à melancolia, pois o livro era na linha lispectoriana e tinha uma outra parte que parecia cinema, fui caminhar até o lavabo, pensei em desistir quando sentei na privada e refleti: qual destino da palavra? Quantos livros não serão digitalizados? Será que estamos diante de uma cilada? Um livro inutilizado é uma tristeza só e o livro que não sei o nome está perdido, empoeirado e, com certeza, não digitalizado, pois era raro. E os digitalizados também se apagarão? Muita parte da história do mundo se perdeu por falta de registro, pouco sabemos dos sumérios, de Stonehenge, da feitura dos moais, os feitos dos incas, fico pensando se restarão coisas inexplicáveis para o mundo no futuro quando esse se dissipar. Imagino a nova raça terrena desenterrando a torre Eiffel e pensando mil interpretações para aquilo que apenas foi uma peça de exposição.
Mas ainda estou procurando meu livro…
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OPINIÃO - 22/11/2024