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Ex-deputado federal, empresário e escritor. E-mail: [email protected]

Reminiscências

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publicado em 28/09/2024 ás 17h47
Pretendo registrar uns fatos em forma de crônica. Vou me inspirar em alguns cronistas, como o nosso amigo Gonzaga Rodrigues, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga. Vou tentar, pois não será tarefa fácil.
Visitei a casa (foto) onde eu nasci há mais de 80 anos, acompanhado de meu filho Júnior e alguns amigos (foto) . Fui possuído de saudades e emoções difíceis de serem descritas pelas profundezas delas. Ao entrar no imóvel senti fortes recordações e saudades dos meus pais e irmãos (10). Relembrei grandes momentos vividos ali, já tão distantes no tempo e na lembrança. Revi os campos que muitas vezes percorri “de pés descalços e braços nus em buscas das asas ligeiras das borboletas azuis”, como descreveu o grande poeta Cassimiro de Abreu.
Visitei os restos do vapor resistindo ao tempo, o engenho com suas moendas enferrujadas, os tachos já perfurados pela ferrugem e a fornalha de fogo morto como descreveu o escritor José Lins do Rego, no seu livro Fogo Morto; o declínio geral dos engenhos da cana-de-açúcar do Nordeste.
Vi as terras, antes úmidas, agora áridas pelas secas constantes e sem o antigo canavial. Os baixios, antes verdes, sem o milharal e o algodão, este o ouro branco de antigamente que já praticamente não existe.
As cercas do curral, algumas delas resistindo ao tempo, trouxeram à memória imagens que ainda se fazem vivas em minha alma; com sentimento profundo de nostalgia tocando o meu coração. Lá, no curral, eu recordei quantas vezes eu tomei o leite morno no peito da vaca. As mangueiras, cajueiros e as goiabeiras, se foram com o tempo e as secas.
Tempo e espaço, tudo parece ainda muito vivo em minha memória. Ao fechar os olhos, as cenas passam como que um filme em minha mente, trazendo à tona o lindo e maravilhoso cenário de infância. Ao ouvido atento, a lembrança auditiva do assobio do vento, soprando e agitando as folhas dos coqueirais.
Foi lá na escola rural que aprendi com professores leigos as contas de somar e o ABC.
Foi desse ambiente que eu parti para encontrar o mundo, no dizer do escritor Raul Pompéia, no seu livro O Ateneu, a um personagem onde o pai diz para seu filho: “Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta”.
Parece que eu ouvi essas palavras do meu pai e parti para a luta. Não foi fácil, tive que enfrentar muitos obstáculos, que me desafiaram como estudante, advogado, professor, político, jornalista e escritor. Como escritor, bom, péssimo, medíocre ou formidável, mas escritor. Através dessas profissões tive a coragem e a ousadia de mostrar a minha face e o que penso.
Externar o pensamento é tão importante como soltar as palavras, “estas uma faculdade do homem que não pode morrer na garganta”, como afirmou o político e escritor José Américo de Almeida.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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