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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

Primavera e a Musa    

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publicado em 16/10/2024 ás 07h00
atualizado em 15/10/2024 ás 17h41
  
         Quando a Primavera troca a roupagem da terra, durante as noites, regando as flores com sua aragem, é tempo de reconstruir sonhos.
         Em 1954, a Primavera festejou o amanhecer com as roseiras, os cajueiros, as mangueiras, os ipês, os flamboyants e os mulungus floridos ao redor da casa. A cada ano, as floradas se renovavam, até no meu entardecer.
         Primavera é período propício para caminhar sem pressa, o ambiente ideal para a mão estendida, o olhar carinhoso, o abraço de reconciliação.
Em agosto, sem que percebêssemos, o vento frio e a ventania, com suas ressacas, e a praia sinalizavam a proximidade da Primavera. Esperamos essa estação silenciosa com sua aura. Percebemos sua densidade, trazendo ventos suaves a circundar nossa casa. Teríamos dias ensolarados e tardes desenhadas com o pôr do sol avermelhado, tempo favorável para escutar a “Valsa das Flores”, de Tchaikovsky.
Contemplo a praia na espera da Primavera, vejo uma vaga espuma galgar a encosta de Tabatinga, quando meu pensamento se volta para Sofia, sabendo que ela contempla sozinha o pôr do sol de sua infância.
         Desde 1954, nesse período do ano, impregnado do aroma da terra fresca coroada de verde, escutando as vozes das árvores e o xuá-xuá da água nos córregos como suspiros primaveris, carrego a Primavera comigo.
         Há pouco tempo, a terra se escancarou para absorver os pingos das últimas chuvas de agosto que umedeceram os recantos do nosso jardim imaginário, dando maior colorido a essa estação do ano. No sopé das encostas e nos montes, existem as mangueiras, os ipês, os cajueiros floridos. A eles se juntam os flamboyants que desfolham pétalas avermelhadas.
Não tem coisas diferentes nesses dias, mas o que muito me chamou a atenção, observando, do jardim da casa onde estou, é a lavandeira que conduz no bico os fios de capim seco para montar ninho na palmeira.
Nada na Primavera supere a Musa no banho de mar ou o pôr do sol, para depois escutar Bach, lembrando-me desses momentos.
         Primavera é poesia, silenciosa e translúcida, estação carregada do silêncio das plantações, dos córregos, na fronte das montanhas floridas, nos fluxos oferecidos pelo mar, tudo que, ao seu tempo e lugar, moveria Strauss, a captar vozes silentes para suas canções. O som dos aparelhos eletrônicos afasta muitos do contato com a Natureza.
         Deixemo-nos impregnar pelo aroma da terra fresca coroada de verde.
         Na Primavera a terra abre sua alma e sorri quando os últimos respingos da chuva umedecem a relva nas madrugadas. Os dias são mais risonhos, renascem esplêndidos, com seus suspiros, e a leve ventania ao contemplar o pôr do sol.
         A Lua grande de agosto antecipou a Primavera deste ano, prevendo dias de longos crepúsculos, com mais energias cósmicas para limpar e fecundar o ventre da mulher que gera a vida. É quando mulheres buscam a benção do útero e dão atenção ao seu ciclo lunar e sua energia.
         Silenciosos, escutaremos as canções de Tchaikovsky, de Strauss, de Bach; o canto das cigarras, dos pássaros, lembrando-nos das mulheres que se banham no mar.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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