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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

CICATRIZANDO

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publicado em 19/10/2024 ás 12h09

Vi, dia desses, na internet, foto da espátula usada para espalhar o Merthiolate sobre ferimentos. Falo, é claro, do  Merthiolate dos tempos de antanho, vermelho-alaranjado , cuja invenção – no imaginário de quem foi criança nos anos 1960/70  – era atribuída ao próprio Demo.

Era uma autêntica sessão de tortura, para Inquisidor algum botar defeito. O sujeito já chegava esfolado, geralmente com o chamboque do joelho arrancado decorrente de queda na “pelada” da rua, e tinha que aguentar o segundo tempo do sofrimento. Não falhava, em toda casa tinha pelo menos um vidrinho do tal remédio, de tocaia, guardadinho no armário do banheiro, só esperando a próxima vítima.

O procedimento era relativamente simples: o adulto de plantão lavava com água o ferimento, para tirar a areia, e , aplicava com a espátula, uma generosa porção do medicamento. A dor era pior que a da queda e do arrancar da pele juntos. Gritos, choros e ranger de dentes. E a cor vermelha ficava na pele. Muitos dias e muitos banhos para sair.

Existiam alternativas  menos dolorosas, é verdade. O Sanativo, e o Mercúrio Cromo. Mas, não tão eficientes.  O Merthiolate era danado, em pouco tempo a lesão estava cicatrizada. O pior era quando nos enganavam, dizendo que iam aplicar o Mercúrio, que praticamente não doía, e, tascavam o outro. A alma tentava fugir do corpo. Para piorar, as embalagens eram praticamente iguais. Ingenuamente, confiávamos no adulto até ser tarde demais.

Por  vezes era melhor não comunicar a existência da ferida. Aguentar calado, deixar o tempo agir e a cicatrização ocorrer naturalmente. Nem sempre funcionava, alguém acabava vendo o estrago, e  imediatamente informava aos pais. Irmãos mais velhos eram muito eficientes  nesses comunicados.  E aí, não tinha escapatória. Lá vinha a generosa porção, para desespero do vivente.

Numa das regulares visitas à farmácia, deparei-me  com ele, na prateleira. Comprei, guardei no armário, e aguardei, mais ou menos ansioso, uma oportunidade de usar. Apareceu, decorrente de violenta topada. Corri , uivando, em busca do “elixir” , é agora !  Que decepção. O dito não é mais vermelho, é cor de água. Pior ainda, não dói mais.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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