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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Finitamente eternos

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publicado em 21/10/2024 ás 07h00
atualizado em 20/10/2024 ás 18h14

“Vivemos esperando dias melhores. Dias de paz. Dias a mais. Dias que não deixaremos para trás.” No que você pensa ao ler esta frase ou mesmo ao ouvir a canção de onde ela foi extraída? Linda canção de Jota Quest, por falar nisso! Sua percepção te remete ao futuro, certamente. Em nenhum momento a letra dela te faz lembrar de morte. Ao contrário. Você pensa em dias melhores pra sempre. Dias lindos, cheios de vida e felicidade. E se você é uma dessas pessoas afortunadas na vida, que nunca tiveram que perder ninguém importante para a morte, nunca tiveram que olhar nos olhos do maior algoz da vida, aí sim, é que fica claro para você o quanto este trecho de música fala sobre vida.

Gosto bastante de ouvi-la. Sinto borbulhas de esperança quando ouço. Mas hoje, ouvido-a mais uma vez, tive outras percepções. Isso acontece muito comigo, com música, livro, filme… sempre encontro outros contornos. Pensei nela na perspectiva da eternidade. E talvez o que escrevo agora não faça sentido nenhum para você, se você não tem essa expectativa. A expectativa de algo a mais. De algo que não termina aqui. E tudo bem. Porque falar de eternidade não significa apenas falar de vida pós-morte. Podemos ser eternos aqui e somente aqui, mesmo depois de partirmos. Não é no que acredito, mas… você pode acreditar como quiser.

Pensa bem: o compositor fala em “dias em que seremos melhores. Melhores em tudo.”Como se fôssemos ser tomados por uma capacidade sobre humana que nunca atingiremos como meros mortais.

“O dia em que seremos para sempre”. Nossa! Você nunca pensou que ele pode estar falando numa perspectiva eterna, fora deste plano? Acho que não, nunca pensou. Porque eternidade remete morte e fugimos do assunto morte como o diabo foge da cruz.

Somos condicionados diariamente a buscar vitalidade, jovialidade, sem permitir que as marcas da velhice apareçam em nós. Nossas cidades, inclusive, são projetadas para isso. Prédios brilhantes, cheios de vidros e aço são construídos nos lugares onde antes existiam construções antigas, cheias de histórias. Tudo isso para esconder a velhice. Porque o velho lembra morte, lembra finitude.

Filósofos antigos, principalmente estoicos, propunham um exercício que, segundo eles, era essencial para aprendermos a ter uma velhice melhor, encarando o momento da morte  com gratidão e não com medo: o memento mori, expressão latina que significava: lembre-se de que você vai morrer. Exercício que nos ajudaria a viver intensamente, lembrando da nossa finitude, agradecendo pelo tempo que ainda temos e, assim, levar a vida presente mais a sério. Era simples: se você não temesse à morte, não haveria nada mais a temer. Encarar morte e vida como faces da mesma moeda.

Penso que teremos dias melhores pra sempre e que seremos melhores no amor e na dor quando entendermos que, como escreveu Sêneca, “o bem da vida não depende da sua duração, mas do uso que fazemos dela”. Sermos eternos enquanto finitos. Deixar legado. Viver cada dia como se fosse uma vida completa. Construir nossa eternidade hoje. Quando voltarmos ao lugar de onde viemos, estaremos bem, de qualquer maneira.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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