João Pessoa, 26 de outubro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Saímos pela estrada embaixo do céu rumo ao Recife, o sol morrendo e a gente vivendo para contemplar a chegada da turnê Caetano & Bethânia no Nordeste. Já havíamos visto as duas noites de estreia, em agosto deste ano, no Rio de Janeiro. Fomos em busca do mergulho num mar profunda civilização.
21h22 os dois entraram no palco e a plateia imensa foi ao delírio. Nada parecia tal e qual, é outro show, mesmo que as canções fossem as mesmas, mas era o Recife pegando fogo na chegada de Caetano e Bethânia, para duas noites – neste sábado tem mais.
Logo eles cantam “Gente é pra brilhar” da canção Gente (Caetano Veloso, 1977), e Bethânia abre o blazer escarlate para mostrar ao país o amuleto jóia reluzente que porta há décadas nos palcos por onde ela pisou.
Os irmãos baianos aparecem juntos no palco da Classic Hall e entram com a marcha eterna tropicalista. A canção Alegria alegria (Caetano Veloso, 1967) é o estrondo da noite com músicos da banda apresentados logo no início do show – os dois cinematográficos cantam “Filhos de Gandhi” (versão da música de Gilberto Gil dedicada ao cortejo de afoxé). Eles alternam as estrofes da música.
Mãe Menininha do Gantois no telão e na voz deles, além de Motriz, que Caetano nunca tinha cantando em shows.
Já na segunda música “Os Mais Doces Bárbaros” eles fincaram o que já foi os “Doces Bárbaros”, definitivamente desfeito, com a morte de Gal Costa, que aparece em fotos gigantes, homenageada nas canções “Vaca Profana e Baby” e os dois repetem: “Gal para sempre, Gal para sempre”
O show é lindo, é intenso. Os dois em um. O sagrado e o mais demasiado humano. O delicado e o suave. Furiosos. Às vezes, ele chorava, às vezes chorávamos juntos.
Quem foi ao Recife teve a oportunidade de celebrar a comunhão de dois filhos de Dona Canô. Caetano Veloso, 82 anos, e Maria Bethânia, 78, cantando suas trajetórias no palco em pouco mais de duas horas. Ao mesmo tempo, agraciaram a irmandade sagrada.
Embora a montagem do palco seja elegante, com oito telões verticais — que exibem as imagens do show, apresentam fotos de arquivo, vídeos e animações em concomitância da canção que está sendo cantada —, não se pode esperar pomposos efeitos especiais. Obviamente, também não se pode cobrar que Caetano e Bethânia esbanjem grandes performances pelo palco. Só a presença deles já é sagrada o suficiente.
Acompanhados de uma megabanda com 11 integrantes – o que inclui nomes como Jorge Helder, um dos baixistas mais renomados da MPB, e participação especial de Pretinho da Serrinha na percussão —, os irmãos ainda propiciam o principal: gogó e interpretação
Assim como em Belém do Pará, onde eles afagaram o público paraense com o canto de “Voando pro Pará”, música que exalta o estado do norte do Brasil, na voz de Joelma – no Recife, eles cantaram “Belo é o Recife pegando fogo, na pisada do maracatu”, de Gonzaguinha
Por fim, “Tudo de Novo” fecha o show. É a música que abre o disco ao vivo dos dois, de 1978. E só um pedaciinho de Odora…
De perto, de longe, Caetano e Bethânia representam a liberdade da música, o fenômeno cultural jamais visto nesse Brasil encardido. E priu
Aqui o set list
Alegria, Alegria
Os Mais Doces Bárbaros
Gente
Oração ao Tempo
Motriz
Não Identificado
A Tua Presença
13 de Maio (citação)
A Donzela se Casou
Samba de Dois Rios
Milagre do Povo
Filhos de Ghandi
Dedicatória
Eu e a Água
Tropicália
Marginália II
Um Índio
Cajuína
Sozinho
O Leãozinho
Você não me ensinou a te esquecer
Você é Linda
Deus Cuida de Mim
Brincar de Viver
Explode Coração
As canções que você fez pra mim
Negue
Vida
Sei Lá Mangueira
A Menina de Oyá
Exaltação a Mangueira
Onde o Rio é Mais Baiano
Baby
Vaca Profana
Gita
O Quereres
Fé
Reconvexo
Tudo de Novo
Odara
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OPINIÃO - 22/11/2024