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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Vim falar de sonho

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publicado em 02/11/2024 ás 07h00
atualizado em 02/11/2024 ás 09h21

Sonhei que eu era Rainer Maria Rilke (foto) através das traduções do mundo, sonhei que éramos livres e eu amava, amava tanto que a vida era maior que os poemas de Rilke e eu não via sinais de perigo. Tudo era tão límpido, puro e enlouquecedor, como vestir uma camisa listrada e sair por aí.

Talvez fosse minha obrigação (eu era filho de leitor contumaz), através do qual aprendi a ler e a gostar de ir estudar todas às tardes iniciais da minha vida no Colégio São José. E tudo era original. Eu gazeava aula para ficar na biblioteca.

Mas as traduções da vida, as traições da vida, me acordavam e eu permanecia dormindo como um menino, o menino grande da canção de Antônio Maria, o mais singelo compositor pernambucano.

No sonho, Akira Kurosawa me contava uma lenda japonesa de um velho mestre que falava de amor e justiça, o fio que liga as almas, creio eu, à linguagem magnificamente certeira (ia dizer: cirúrgica) do meu sonho com poeta alemão.

E foram dias e mais dias sonhando que me encorajaram a ler mais tarde, alguns poemas do Bandeira, outro pernambucano, o da Estrela da Manhã

Como muitos outros leitores, eu me impressiono fácil com as coisas duradouramente imagináveis ou inimagináveis. Ainda hoje mal consigo pensar sobre o liame, sem chorar escondido.

Vivo de arrepios e comoções. E até hoje continuo a tentar encontrar o verdadeiro sentido da vida — que aliás, não precisava de ter sentido nenhum, ser apenas uma passagem aqui na Terra, já  é o sentimento do mundo.

Eu tinha aprendido que é possível sonhar o sonho impossível (mas acordado) Com Deus, eu me jogo aos pés da Santa Cruz.

Sonhando que eu era Rilke aprendi que tudo é natureza, a mais sutil forma de amar para com o mesmo Deus, que nos ensinou a sonhar, sonhar, sonhar e acordar para a vida.

Leiam comigo em voz alta esses versos de Rainer Maria Rilke: “São horas, Senhor. O Verão alongou-se muito. Pousa sobre os relógios de sol as tuas sombras, E larga os ventos por sobre as campinas”

Precisa de Kapetadas? Então, vamos lá

1 – Não tenha medo, tenha um bom álibi.

2 – Pois bem, como os humanos decidiram não fazer a revolução, a Terra está fazendo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB