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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Ainda Estou Aqui, um filme triste

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publicado em 12/11/2024 ás 07h00
atualizado em 12/11/2024 ás 07h46

 

Vamos pensar que o novo filme de Walter Salles, “Ainda Estou Aqui” merece o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas talvez não leve – mas,  sem dúvida, é  um grande pretendente para as listas de premiações mundiais.

Não há exagero algum no filme. A adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, é de uma profundidade que deveria ser mostrado em todas as escolas brasileiras, para que jovens do ensino médio possam ver esse Brasil de ontem e hoje.

O filme é um drama simples, mas é universal – que, mesmo tendo especificidades sobre a história do Brasil, é um soco no estômago.

No centro dessa história está Eunice (Fernanda Torres), esposa de Rubens Paiva (Selton Mello), ex-deputado, cassado após o golpe de 1964, que é sequestrado pelo regime militar e nunca mais volta para casa. É cruel.

Nada sutil com a situação, já na cena de abertura, a protagonista Fernanda Torres surge boiando na praia do Leblon, enquanto um helicóptero do exército passa dando um rasante. Mas isso é apenas o começo.

Onde já se viu, uma antologia viva ser colocada no esquecimento? Onde já viu tirar um pai de família de dentro casa e nunca trazê-lo de volta? Aliás, cadê o Amarildo?

A vida brasileira “em sina” já não aguenta mais cenas dessa composição, nenhum cidadão contém, seja o que for, para não se conhecer, se identificar  e se abalar nessa história de Eunice e Rubens Paiva.

Quando nenhum filho ou a mulher Eunice, presumiam saber o paradeiro do pai e marido e isso significa a insolência, ofensivo demais, a tortura, cujos sinais distribuídos pelos dias de solidão são terríveis… mas Eunice não esmorece.

 O filme traz e leva coisas do museu da memória da ditadura militar no Brasil, para fazer sentido do que se sucedeu e  o que não sabemos.

As feições corroídas da família das quais podemos ver no rosto a dor de séculos, e  não tem sequer alguém cantando no banheiro, como quem canta uma melodia triste entre o quarto e a sala.

 O filme Ainda Estou Aqui, está aí, alí, lá e tem uma existência nua, tem um poço, tem uma vida inteira perdida.

 Como se não imaginássemos e fosse com nós mesmos, com nossa família, perdidos cuidados imensos, que jamais nos tornaria  compreensivos, nessa letargia, no medo, porque o importante não é o tempo, é o presente a todo momento, de tudo que aconteceu, está acontecendo

 Ainda Estou Aqui  é um presságio, sons vivos,  gritos, com a propagação da mal  de uma coisa assim difícil de acreditar, mas é real.

Kapetadas

1 – Pai é essencial. Sem ele a genética não teria como transmitir porra nenhuma.

2 – Destino, dizem, cada um tem o seu. Aí surge um sequestro e junta muitos num só.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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