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Meu próximo livro, “O sibite baleado”, é ambientado no sertão da Paraíba, em 1932. Há uma cena em que o pai expulsa a filha de casa porque a moça apareceu com um barrigão daqueles. Isto veio a calhar com uma reportagem que vi semana passada.
“Puta Autobiografia” é o nome do livro autobiográfico de Lourdes Barreto. Brejeira, paraibana, ex puta, líder do movimento de prostitutas no Brasil. Os extremistas de direita, hipócritas como são, torcem a cara. Eles preferem as putas submissas ao macho, exploradas e humilhadas.
Eu me arrepio inteiro com a vida dessas heroínas que, um dia, ninguém deram nada por elas, mas, como gigantes, alçaram voo para dignificar a humanidade na construção da civilização. Defesa da liberdade sexual, prevenção à Aids, postura de enfrentamento à exploração sexual, sobretudo de crianças e adolescentes.
Bravíssimo. Hoje, uma das 100 mulheres mais influentes no mundo, assim eleita pela BBC. Claro que rendo homenagem às outras brasileiras também escolhidas: a bióloga Silvana Santos e a ginasta Rebeca Andrade, magnificas em suas respectivas áreas de atuação.
Nada contra as duas, muito pelo contrário. Orgulho imenso, respeito extremo, história de luta, determinação e resiliência, exemplo a ser seguido. Cada uma delas precisa de uma homenagem especial, mas no livro “O sibito baleado” não há personagem que seja ginástica ou bióloga, embora, sem relação com a Biologia, a sibita Ribeirão costume prescrever chá de bosta de cachorro para as ressacas da passarinhada, quando exagera tomando mijo de lagartixa marinado por noventa dias.
Assim, hoje, é dia de puta. Velha e linda. Todas as homenagens para você, Lourdes Barreto.
Estuprada aos 14 anos por um tio; expulsa de casa, por homens e mulheres ditos de bem, com o beneplácito das famílias religiosas. Só Deus e ela sabem as agruras por quais passou.
Lourdes já merecia a homenagem apenas por ter sido uma das responsáveis pela instituição do Puta Day, o dia Internacional da Prostituta, mas ela foi além: fundou a Rede Brasileira de Prostitutas em 1987, criou o Grupo de Mulheres Prostitutas do Estado do Pará, que combate o preconceito e valoriza a identidade das trabalhadoras sexuais e uma a ativista dos direitos humanos.
Lourdes Barreto é uma grande brasileira.
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novo protesto - 16/01/2025