João Pessoa, 24 de dezembro de 2024 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
(dedicado ao menino Miguel)
Lá em casa, no sertão, nunca tinha Ceia de Natal e, quando tinha era arroz doce, que eu detestava. Também não me lembro do peru da casa dos outros. Lembro das calçadas, a noite de festa nas ruas.
No Mercado Público, um prédio histórico, que mandaram derrubar, tinha uma senhora que trazia da serra do Horebe, um bolo de batata doce e eu aguardava e guardada o dinheiro – o ano inteiro, para comer uma fatia daquele bolo tão bom, tão bom.
Hoje, já velho, mas tenho essa memória de menino. Olho para além do tempo, dos sinais visíveis de que vão além do horizonte, da canção do Roberto
Há um caos no Natal dos apressados. Não vou. Não vejo. Nem quando eu era menino exista Papai Noel, existia pai Vicente.
Dor – Um mulher pulou do prédio com o filho de três anos, no Altiplano. A notícia diz que ela caiu. Não tem Feliz Natal na casa desta família nunca mais. Essa alegria já não transpõe o bater da porta.
Dor -Nos muros caiados da cidade quatrocentona não existe Feliz Natal, mas a violência vai além do sol. É triste, tantas mulheres mortas. Não faz sentido. As vozes caladas das mulheres são um áspero anuncio de muitas dores.
Algo atinge o meu olhar incauto junto dos que amam a sombra, a chuva e a lua.
Das janelas dos prédios as luzes piscam, mas não iluminam as casas com frinchas nas janelas.
Nas mãos de toda a gente um ritmo veloz de feliz natal. Parece um desenho animado. Um impulso, um gesto evasivo, uma cantoria.
Instantes antes nessa incerta imensidade do tempo, então, Feliz Natal
Naquele tempo d’eu menino, nem sabia da canção “Até Pensei”, de Chico Buarque, 1968 ( ano do AI 5) que fala que a felicidade morava tão vizinha. Onde?
Kapetadas
1 – É tanta gente escrevendo, inventando poesia, escrevendo mal que a última flor do Lácio está virando cacto.
2 – Quando ninguém mais souber o que é realidade e o que é IA, o futuro vai chegar de mansinho, olhar e voltar ao passado.
3 – Ilustração IA.
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TURISMO - 19/12/2024