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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Non Ducor, Duco!

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publicado em 11/01/2025 ás 07h00
atualizado em 11/01/2025 ás 08h31

As palavras que ficam paradas, morrem na estrada, sem rumo, sem destino, elas fogem da boca e se atrasam, emudecem ou desistem simplesmente de serem pronunciadas. Silêncio, a poesia fala mais alto.

As cartas serão rasgadas e para onde elas vão eu não sei. Outro dia achei uma carta de amor no lixo e pelo tempo, o romance se tornou uma miniatura, numa narrativa sobre a qual ainda se possa afirmar: “eu te amo”.

O amor quando acaba não é como se ele nunca tivesse existido – as marcas ficam nos vestidos, nos travesseiros, no cheiro pela casa, mas o amor acaba e é triste porque ele deixa à mostra uma instabilidade, uma certa insuficiência de existir.

Sobre palavras não ditas ou se ditas no limite, da própria necessidade, o amor é uma obra densa, breve, genial, mas estanca.

Não seria errado lembrar sobre a consciência de cada um. Não é um filme que se diz – “no final Helena morre e José fica sozinho”.

Se o fim está dado desde o início, e nada se pode fazer, a expectativa parece deslocada, e o que passa a nos mobilizar são os desencontros e circunstâncias que levaram ao desenlace. Será que o amor suporta tudo? Bom, desde A Nova Desordem Amorosa não se tem noticia de Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut.

A coisa não avança sem conversa e cresce a partir das leituras e da mentira que contam um ao outro de que, sim, claro, leram Marcel Proust, mas ninguém devolveu o Neruda que nunca leu; de uma noite em que se reúnem para jogar conversa fora; da discussão sobre como Emma Bovary transaria se vivesse nos dias de hoje.

Mas o que a Madame Bovary, a Emma, tem a ver com isso, se ela não nos faz rodar a cidade, sem destino, “em círculos e diagonais”, por uma noite apenas e nada mais? A Ema não tem que gemer toda vez, meu caro.

Ah! Lembram da famosa cena da carruagem em Madame Bovary se transformando numa ronda solitária, no banco de trás de um táxi? Hoje seria no Uber, né?

Pois é, não sou conduzido, conduzo.

Kapetadas

1 – Ainda não afundamos na escuridão, mas estamos pendurados no lustre, e a luz está piscando.

2 – Tem gente tão burra e ignorante que resume o sucesso da Fernanda Torres apenas ao filme. Imagina quando essa pessoa descobrir que além de tudo, ela é uma excelente escritora. Não vai descobrir, porque é sobre livros…

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB