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Espaço K

Arquiteta paraibana foca trabalho no universo do Patrimônio Histórico

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publicado em 22/01/2025 ás 09h47

Kubitschek Pinheiro

Uma jovem arquiteta paraibana, Larissa Vasconcelos, abraçou um dos mais importantes segmentos mundiais da arquitetura – o universo do nosso patrimônio histórico. Ela nasceu em Itabaiana, terra do músico Sivuca e foi criada na cidade Salgado de São Félix com os pais Luís Carlos da Silva e Maria das Graças Neves de Vasconcelos. Seu TCC trata do coreto de Itabaiana, uma homenagem dela à cidade que lhe pariu

Larissa Vasconcelos, é formada em Arquiteta e Urbanista pela UFPB desde 2020, mas com vasta experiência de mercado desde 2017 onde já trabalhava na Planej (Empresa Júnior de Arquitetura e Engenharia Civil).

O patrimônio histórico entrou em sua vida, após se apresentar no 7º Seminário do DOCOMOMO Brasil em Manaus, com o trabalho de documentação e reconstrução virtual da Casa Severino C. Ribeiro do Arquiteto Geraldino Duda, um exemplar da Arquitetura Moderna na cidade de Campina Grande, que já demolida.

Ela integrou quando estudava, o Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB como extensionista onde publicou um artigo da maior importância “Um novo olhar sobre os edifícios históricos” no 5º Seminário Internacional de Museografia e Arquitetura de Museus – Fotografia e Memória, o qual analisava a fotografia como ferramenta de apreciação, conscientização e documentação do patrimônio. É uma gigante.

Seu trabalho final de graduação reuniu a documentação histórica e o projeto de conservação e restauro do Coreto da cidade de Itabaiana, onde Larissa reúne desde a relevância histórica da cidade de Itabaiana, a importação e chegada das peças do Coreto, seu estado atual, reconstrução em maquete eletrônica e projeto para conservação e restauro do bem. Atualmente está em análise para execução.

Hoje ela é um plural – atua com projetos arquitetônicos, de interiores, comercial e, claro, de patrimônio histórico. “Estou com projetos em andamento no Centro Cultural São Francisco e no Mosteiro de São Bento em João Pessoa”, avisa.

O Espaço K conversou Larissa Vasconcelos, que está começando a mostrar sua arte, seu trabalho, a construção de uma profissional rumo ao topo.

Espaço K – Arquitetura é um curso da maior importância, porque abre portas para diversas atividades profissionais – onde Larissa está incluída?

Larissa Vasconcelos – Atualmente me insiro na área de projetos (residenciais, comerciais, patrimoniais), mas tenho planos futuros para dar continuidade a pesquisa na área de patrimônio.

Espaço K – sua identificação com o universo do patrimônio histórico veio da sua performance no 7º Seminário do DOCOMOMO Brasil em Manaus, com o trabalho de documentação e reconstrução virtual da Casa Severino C. Ribeiro do Arquiteto Geraldino Duda, um exemplar da Arquitetura Moderna na cidade de Campina Grande e que foi demolida. Vamos falar sobre isso?

Larissa Vasconcelos – De fato foi minha primeira experiência na área patrimonial com meus colegas de turma Alberto Araújo e Mariana Oliveira. Me encantei pelo fato de poder restaurar virtualmente um bem de relevante importância para a história da arquitetura moderna da Paraíba. Infelizmente a especulação imobiliária, a desvalorização histórica e a escassez de manutenção fazem com que muitos edifícios históricos sejam demolidos dando lugar a lojas, prédios, casas… Hoje a casa Severino C. Ribeiro arquitetada por Duda deu lugar a uma simples farmácia. Poder pesquisar, estudar como se dava o modernismo no interior da Paraíba, perceber que aqui tivemos grandes arquitetos modernistas como Duda e, acima de tudo, reconstruir virtualmente, documentar e apresentar lá no Amazonas em um evento de grande porte como o DOCOMOMO me impulsionou a continuar admirando e resguardando a história contada através da arquitetura.

Espaço K – Valiosíssimo seu trabalho focado na destruição de um imóvel, mesmo que seja uma arquitetura moderna, pois  os prédios e casas históricos estão 80% em ruínas -qual sua opinião?

Larissa Vasconcelos – Só conservamos aquilo que está em uso. Não adianta deixarmos edifícios intocados e entregar nas mãos das intempéries. Hoje podemos criar narrativas para esses edifícios mesmo que estejam em estado de ruína. Projetos de conservação, restauro, intervenções são soluções precisas para esses casos. A cidade de Manaus é um excelente exemplo de coexistência entre passado e presente, onde vemos nos arredores do Teatro Amazonas casarões conservados e adaptados para novos usos. Projetos que atendem ao uso atual e não ferem a história. O próprio Teatro Amazonas é aberto à visitação e se tem todo um cuidado com cada elemento que se mantém original. Dar uso, atrair a comunidade, começar a enxergar potencialidades nesses locais, fiscalizar e dar suporte aos novos usuários seria um caminho valioso de salvaguarda para nossa história.

Espaço K –   Você  me parece já adiantada e com boa bagagem  pois integrou o Núcleo de Arte Contemporânea da UFPB (antigo NAC) como extensionista onde publicou um ensaio  “Um novo olhar sobre os edifícios históricos” no 5º Seminário Internacional de Museografia e Arquitetura de Museus – Fotografia e Memória, o qual analisava a fotografia como ferramenta de apreciação, conscientização e documentação do patrimônio.  Isso é muito bom. Poderia contar pra gente mais sobre esse tema?

Larissa Vasconcelos –  O NAC me fez mergulhar ainda mais nesse universo. Diariamente pude estar imersa naquela região da cidade (mais precisamente na Rua das Trincheiras) que guardas belíssimos e valiosíssimos exemplares. O NAC na década de 70 foi palco das primeiras discussões sobre os caminhos da arte contemporânea no Brasil e contou com a presença dos mais importantes artistas brasileiros da época. Hoje guarda um rico acervo tipográfico e litográfico da indústria paraibana além de ter oficinas e ateliês abertos ao público. Na época que pude atuar como bolsista do NAC, me despertou a indignação da desvalorização do nosso patrimônio arquitetônico no sentido de que as pessoas passavam sem parar para admirar, conhecer sua história, experienciar os espaços… Daí surgiu o desejo de escrever o artigo com a Professora Aluízia Márcia e o então Vice-Reitor Orlando Vilar. O artigo discute um pouco desse universo e contém o resultado de uma oficina de fotografia que fizemos com alunos recém-chegados no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPB. Puderam parar, analisar, sentir, experienciar, registrar a história através da arquitetura e extrair belíssimas fotos de elementos que antes passavam despercebidos até por quem estava lá diariamente. O trabalho despertou olhares para o NAC e trouxe mais ações de conservação para o edifício.

Espaço K – Terminou o curso em plena pandemia.  Deve ter sido um sufoco. Vamos falar sobre isso?

Larissa Vasconcelos – Quando estávamos organizando a colação de grau das turmas do Centro de Tecnologia veio o primeiro confinamento da pandemia, momento que ninguém sabia como agir diante daquela situação e, acima de tudo, o que estava por vir nos próximos meses e anos. Fiquei receosa quanto ao mercado de trabalho já que é uma profissão que exige estar em campo. Foi um momento confuso e ao mesmo tempo precioso para mim, pois aproveitei o tempo em casa para organizar questões de marketing e material de trabalho, criei lives e pude trabalhar através de assessorias virtuais para obras e pequenas reformas. Fui fazendo tudo que estava ao meu alcance e deu supercerto! Graças a minha experiência com a Planej, não tive medo e me sentia preparada. Os primeiros clientes começaram a chegar e, depois disso, estava pronta para qualquer desafio.

Espaço K – Seu  trabalho final de graduação focado na documentação histórica e no projeto de conservação e restauro do Coreto da cidade de Itabaiana. Puxa vida!  Faz um resumo e conta pra gente sobre  esse projeto – a história desse coreto de Itabaiana, a cidade mais musical do Brejo, que pariu o mestre Sivuca? 

Larissa Vasconcelos – Sim! A música sempre fez parte da cidade de Itabaiana e bem antes do estrelato do nosso grande Mestre Sivuca. O trabalho conta sobre a história da chegada do coreto na cidade e, consequentemente, conta sobre a própria história de fundação e ascensão de Itabaiana. O coreto veio da Inglaterra em 1913 e inaugurado em 1914 sendo o segundo ícone mais antigo sucedendo apenas a igreja matriz. A pesquisa abrange desde o estudo da Arquitetura do Ferro no Brasil, a ascensão da cidade de Itabaiana e a chegada do coreto, a história da cidade e o processo de modernização que aconteceu a partir da chegada da linha férrea na cidade, o que possibilitou a chegada da eletricidade e das peças desmontadas do coreto. Além disso, segue um estudo da origem dos coretos no Brasil e no mundo e o projeto de conservação e restauro do coreto de Itabaiana. E, sim, os coretos foram primordialmente criados para apresentações musicais. Diferente dos grandes pavilhões e quiosques, os coretos ao final do século XVIII recebem essa finalidade de abrigar apresentações musicais.  O coro da igreja é um local utilizado para apresentações musicais. A palavra ‘coro’ também remete a ‘canto’. Em francês, o coreto é chamado de ‘kiosque à musique’, que quer dizer em português ‘quiosque da música’. Em inglês, a palavra usada é ‘bandstand’, na qual ‘band’ significa ‘banda’ e ‘stand’ no sentido de ‘tribuna’ ou ‘estrado’. Assim vemos que a principal função dos coretos é sugerida perante suas definições: a música. (CARVALHO, p. 2-6). 

Espaço K – Como está avançando seus projetos atuais arquitetônicos, de interiores, comercial e de patrimônio histórico. Tem projeto em andamento no Centro Cultural São Francisco e no Mosteiro de São Bento em João Pessoa – fala ai pra gente?

 

Larissa Vasconcelos – Atualmente faço projetos de interiores, arquitetônicos, comerciais e patrimoniais. Casas convencionais ou com tijolo ecológico, intervenções patrimoniais, reconstruções, conservação, restauro, acessibilidade e paisagismo. Além de dar capacitações e ser a responsável técnica e consultora da Empresa Junior de Arquitetura e Engenharia Civil (Planej). Na área patrimonial, estou trabalhando em parceria com empresas de engenharia em projeto de as built do Mosteiro de São Bento, intervenção e acessibilidade para o horto e jardins do Centro Cultural São Francisco, e também no restauro do casarão que pertenceu à família fundadora da cidade de Duas Estradas-PB. 

Espaço K – Você tem hábito de leitura, costuma assistir podcast de arquitetos etc?

Larissa Vasconcelos – Como Urbanista, gosto de ler sobre a cidade e a mútua interferência com a sociedade, os impactos e suas mudanças recorrentes. Um dos primeiros que li e gosto até hoje é o Cidades Para Pessoas de Jan Gehl e o Brasil, cidades: alternativas para a crise urbana de Erminia Maricato . Durante o trabalho, gosto de ouvir o Arquicast pelo Spotify ou playlists de MPB.