João Pessoa, 28 de janeiro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nunca mais tinha escrito um texto com meu filho Vítor. Fiz muitos, quando ele nasceu, ele menino, Vítor e Pé de Feijão, Vítor Penseiro, O Halloween de Vítor – era o tempo da delicadeza.
Não há outra coisa que eu não ame mais, que não seja o filho, o único – a nossa casa também, o refúgio, o silêncio, a varanda, as caminhadas e as árvores.
Cheguei aqui como um hóspede inesperado, talvez o hóspede da utopia, hospede de nada e do nada, então, descobri que eu já sabia existir – os meus olhos se sentiram à vontade com o excesso de amor que poderia dedicar a um filho, além da cansaço de ser pai aos 40 anos.
Outro dia à noite, fui ao banheiro escovar os dentes para dormir, quando escuto ao longe uma canção que vinha do quarto dele, era a voz de Ney Matogrosso – “jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados”, aquela canção, “Sangue Latino”, do disco Secos & Molhados, da década de 70.
Já vi ele escutando Pink Floyd e outras bandas inglesas, uma vez Caetano, mas não sabia que ele gostava dessa canção Sangue Latino.
Vítor é meu parente de sangue e coração.
Escutei a música até o fim, “minha vida meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minha alma cativa”
Fui a cozinha tateando a mobília, os porta-retratos, a cristaleira, a estante dos livros, tudo desviado como rostos que passaram para mim.
Na manhã seguinte, no último domingo, ele viajou para Natal, onde sua namorada Ana Julia, que faria provas para um concurso.
A que horas você vai, Vitor? “As sete horas, pai” – cuidado na estrada. Nessa hora, quando ele já ia, me acordou, não para fazer o que eu fazia com meu pai – “benção pai”, mas para me beijar no rosto dizendo – “já estou indo” Isso me deixou capaz de arrancar risos e lágrimas.
Eu era pequeno ainda, recordo que meu pai me beijava sorrindo, acenando pra mim.
Por isso e outras e grandezas, nos permitimos ser ilustres, pai e filho.
Kapetadas
1 – Enquanto o tempo voa, a decrepitude aterrissa.
2 – O colchão é um tatame onde Morfeu aplica ippon em qualquer oponente.
3 – A foto é dele com no amigo de infância, Eudes, o Gugu de nosas vidas.
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ACORDO - 30/01/2025