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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

Vital Farias

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publicado em 09/02/2025 ás 08h26

Bateu a saudade de Vital Farias, partiu junto a Marina Colasanti, me veio na memória as letras que fazem a gente pensar, lembro bem que ele falava que iria comprar dois automóveis e depois mais dois imóveis, “um pra mim outro pra ti”. O ano era 1979, a gente desfilava no Sete de Setembro batendo continência para o Presidente Geisel (se pronuncia gá-i-zel) porque tinha medo. Era ditadura e mesmo passando de uma cidade para outra a gente batia continência para a PRF por medo. Mas o medo dos artistas da época era outro, não era o de ser preso ou injustiçado até pelo que não fez ou pelo que pensava, era um medo inocente do que eles pronunciavam, das letras estratosféricas de Zé Ramalho, da voz estridente e límpida de Elba naquela época, dos versos de Pedro Osmar, dos trocadilhos de Antonio Barros, dos arretiros de Kátia de França, era muita gente falando muita coisa ou dizendo muita coisa com seus instrumentos, Campina Grande parecia até maior de tanto artista do quilate de Sivuca, Marinês, Jackson, Biliu, Abdias, Rosil, Genival Lacerda, Braulio Tavares e outros,  mas eu tinha admiração gigante pela obra de Vital, o Farias. Vital falava das cantigas, da mãe, do repente, do roçado e de repente parecia tertúlia, moda de viola e, com seu violão e sua poesia, aprendi o que era taba, conheci o azulão, a fauna e a flora, o bandolim, o madrigal, a monazita, o amianto, a calcita, tanta coisa, tanta palavra dita e tanta metáfora como em ‘caso você case’ descrevendo a mulher submissa, calada de forma tão peculiar que só ele conseguiria escrever e cantar. Pois bem, Vital era um trovador, um seresteiro, deu voz a tantos, participou de tanta coisa, até da política, porque era idealista, lutou bastante para encontrar propósito em uma sociedade que é na maioria das vezes injusta. Vital Farias ainda falava de melhoral, denunciava o desmanche da Amazônia, fez quarteto perfeito e fez duetos memoráveis com Tânia Alves e ainda bem que teve sua obra reverenciada por Elba e seu grande encontro, revelando seus maiores sucessos. Taperoá, na Paraíba já nos tinha presenteado com Ariano Suassuna, depois pariu outro gênio. Obrigado Farias, você é Vital, ai que saudade d’ocê! 

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