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Hildeberto Barbosa Filho
O rio, elemento fundamental da geografia física e humana, tem sido, ao longo do tempo, motivo poético recorrente. Heráclito lhe conferiu estatuto filosófico e simbólico, e os poetas nunca deixaram de cantar suas águas, margens e histórias.
Eu mesmo já me exercitei, espiando a temporalidade do Paraíba, em terras áridas e secas, num oratório que integra o livro Ofertório dos bens naturais. Camões, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Francisco Carvalho e tantos outros tocaram, aqui e ali, o aquático vocabulário que se move pelas águas do rio.
Navego, agora, pelo Parnaíba, compulsando a segunda edição de O rio: coletânea de poemas sobre o Parnaíba (Teresina: FUNDAPI, 2022), organizada por Cineas Santos e Adriano Lobão Aragão. A obra reúne quarenta poetas e quarenta poemas, entre antigos, modernos e contemporâneos, mesclando olhares líricos que observam e capturam o rio em múltiplas facetas.
Admiração, espanto, empatia, alerta, protesto, denúncia, tudo vem à tona pela voz e pela percepção de cada poeta. Nomes já consagrados, como Da Costa e Silva, Álvaro Pacheco, Francisco Miguel Moura, H. Dobal, Olympio Vaz e Clóvis Moura se juntam a nomes mais recentes, como Fransued do Vale, Salgado Maranhão, Nathan Souza, Paulo Machado e Renata Flávia, entre outros, para a configuração do rio, em toda sua extensão simbólica.
Não se trata, a rigor, de uma antologia, que pressupõe, a princípio, a medida da excelência estética. Trata-se de uma reunião centrada no critério temático, portanto, voltada, sobretudo, para o valor documental e histórico, na medida em que, para além do dado poético e expressivo de muitos poemas, vê-se o grande rio em outras nomenclaturas, a exemplo da econômica e da ecológica.
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12 poetas de Oeiras (Teresina: Edição do Autor, 2013), com prefácio do poeta e cronista Rogério Newton, um de seus integrantes, reúne algumas vozes líricas que já podem integrar a tradição poética da velha cidade do Piauí, que deu nomes, como Licurgo de Paiva e Antônio Gentil de Souza Mendes, ainda no século XIX, e, no século XX, Um Nogueira Tapety, um Luiz Lopes Sobrinho, um Gerson Campos, um Guadêncio de Carvalho e um Fred Maia, entre outros. Poetas que, se não tiveram repercussão nacional, como bem assinala o prefaciador, abriram caminhos para as novas gerações que procuram manejar as palavras no ofício do verso.
São contemporâneos, portanto, os que participam dessa coletânea, ilustrando, em certo sentido, o potencial lírico da cidade, com seus poemas selecionados para a composição da obra.
Anna Bárbara de Sá, Dagoberto Carvalho Jr., Edilberto Vilanova, Jadson Santos, João Carvalho, Paula Nunes Alves, Pedro Igor, Rogério Freitas, Rogério Newton, Stefano Ferreira, Vivaldo Simão e Xico Carbó se revelam, cada um a seu modo, nos compassos da expressão poética, a partir de uma perspectiva lírica de variadas matizes e tonalidades, seja pelos procedimentos formais, seja pelo conteúdo temático.
Mesmo diante de concepções técnicas e estilísticas diferentes, é possível observar, em cada autor e em cada dicção, o esforço pela limpeza retórica do verso, pelo espírito de síntese, pelo vigor substantivo, a conduzir o olhar e a percepção na captura de motivos universais, cotidianos, metalinguísticos e existenciais.
Nota-se, também, em alguns poemas, certo timbre de rebeldia e indignação, principalmente quando a voz lírica se volta para as questões públicas e sociais, correndo-se o risco, aqui, da arte poética sucumbir perante o postulado ético das boas intenções.
No entanto, vejo com bons olhos trabalhos dessa natureza. De certa maneira, a fala dos poemas também pode ser uma via de acesso às veias e às artérias da cidade, não somente no âmbito de suas fronteiras geográficas e urbanas, mas também, e sobretudo, nas zonas menos tangíveis de sua psicologia social e de sua componente simbólica. Isto, sem esquecer o valor documental de volumes como esse, tanto para a crítica quanto para a história literária.
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OPINIÃO HERON CID - 11/02/2025