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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

A crônica que anda comigo   

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publicado em 12/02/2025 ás 07h00
atualizado em 11/02/2025 ás 19h47
 
José Nunes
Olhando a folhinha de 1975, observo que a data cinco de fevereiro é emblemática e sempre presente no calendário da vida. Nessa data aconteceu minha estreia como cronista, e eu senti a incontida alegria de ver meu nome impresso em jornal, com o texto distribuído em duas colunas.
Quando foi ele publicado, o jovem de dezenove anos era identificado pelos trejeitos de agricultor alimentado pelas lembranças da infância, com algumas leituras apontando horizontes, carregando lembranças de quando escavacava a terra com a enxada e fazia uso da foice para brocar mato.
Nessa crônica de saudades, a primeira de muitas publicadas, buscava o mundo perdido na paisagem da infância, o mundo interior, a vida excitante nas brugueias de Serraria, no silencioso sítio. No texto fazia o registro da memória para nunca esquecer das lembranças ou se tornasse fugaz como a sombra de uma nuvem.
         Por isso estou sempre lembrando esse dia memorável em que a minha crônica foi publicada. A partir de então, escrever passou a ser meu lenitivo e alimento nos momentos de solidão e espera. Escrever exige recolhimento e paciência, perseverança, leitura e convivência com pessoas repletas de saberes.
         Se o mundo universitário passou ao largo, os livros remanejaram até mim esse mundo do conhecimento.
         Como não lembrar da tarde quando, atônito, entrei na redação do jornal O Norte, com o texto na mão e uma solicitação de Nathanael Alves para Teócrito Leal publicar minha produção literária. Uma dupla gentileza que nunca perderei de vista.
         Jamais esquecerei o dia quando, pela manhã, olhava meu texto publicado. Era um dia claro desde o amanhecer, possibilitando descortinar horizontes capazes de amenizarem a saudade da terra distante, a partir daquele momento apontando a conexão com o meu viver. A literatura marcada pelas insinuações do cotidiano, da casa em Tapuio à margem das verdejantes paisagens do Brejo, tudo transformado em metáforas. Serraria é meu oratório poético, musa a iluminar as criações literárias, a produção de crônicas e poemas.
          A partir daquele cinco de fevereiro, passei a conviver com a ventura de cultivar sentimentos e de fazer valer as lembranças do meu passado, a excelsa luz a me acompanhar em sete décadas de vida.
         Não nasci para outra coisa. Nasci para a emoção. O escritor testemunha o seu tempo, conduzido por uma força desconhecida, porque foi escolhido para essa atividade.
         Descubro-me em cada livro lido, nos textos que brotam livres e nos escritos adormecidos em cadernos de anotações. Livros e textos livram-me das tentações da angústia para avançar o olhar que transforma saudade em poesia, neblina em refresco e a terra árida do coração em lugar fértil.
         Tecendo a vida com os que me rodeiam, a família recolhida no tempo, junto à crônica, à poesia e às leituras que são motivação para transformar em textos, após ajuntadas as experiências que permitem viver com pequenas ambições.
         A literatura abriu a janela para eu obter a visão do mundo, dos livros saindo luzes para emoldurar a presença na casa do saber e da arte. Acolhi esse gesto supremo da imortalidade como merecimento ofertado pela crônica e pela poesia, sem nunca querer ser dogmático nos ritos pessoais, mas apenas desejando a convivência literária duradoura.
A crônica de minha estreia no mundo das letras revelou esse cenário de minha terra que carrego como inspiração. Mesmo que essas paisagens estejam na fotografia, jamais esquecerei da tarde em que entrei com o texto na redação de O Norte.
Sem que os meneios de agricultor, alimentado pela brisa dos canaviais de Serraria, desapareçam, desde então a crônica anda comigo, a poesia passeia perto, e a ficção romanceada arrodeia, caçando uma brecha para entrar. Sempre com projetos afetivos, recheados de sonhos e alimentados pelas palavras, escrevo para me descobrir. E assim a vida continua.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB