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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

O bispo dos Miseráveis  

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publicado em 26/02/2025 ás 07h00
atualizado em 25/02/2025 ás 20h16
         Quando se completaram três anos da leitura de Os Miseráveis, de Victor Hugo, uma silenciosa leitura recomendada pelo mestre Milton Marques Júnior, estudioso do conjunto da obra deste autor francês, retorno agora para apreciar este monumental livro cheio de lições para nosso cotidiano.
         Retornar é o termo mais sensato porque, nas minhas inquietações na busca de leituras bem elaboradas, Victor Hugo tem em socorrido. Os Miseráveis tem sido um consolo.  Agora chego embalado pela descoberta de que bispo Charles Myriel, da ficção, realmente existiu e que a Igreja da França, mais de duzentos anos depois, faz justiça a este homem bondoso, exemplo para nossa Igreja.
         Victor Hugo começa seu magistral livro afirmando: “Em 1815, o senhor Charles-François-Bienvenu Myriel era bispo de Digne. Era um homem de aproximadamente setenta e cinco anos, e desde 1806 ocupava aquela diocese”.
         O escritor francês considera o bispo Myriel “um justo” e descreve como sendo de baixa estatura, mas de boa aparência, gracioso, espirituoso. Exatamente como o verdadeiro bispo que serviu na diocese de Digne. Quem leu este livro sabe das atitudes deste religioso para apoiar e salvar o ex-condenado Jean Valjean, num gesto de incomparável grandeza.
Este pastor infatigável, missionário zeloso, atento a todos e sobretudo aos mais pobres foi, sem dúvida, foi inspiração para grande romancista francês.
         Assim como em Os Miseráveis e outros romances histórico-sociais, Hugo recorria a registros, inspirava-se em histórias, lugares e personagens reais. Em 1862, quando foi publicado, se descobriu que o bispo Myriel da ficção realmente existiu e se chamava Miollis.
         Recentemente, quando preparava documentação para abertura do processo da fase diocesana da causa da beatificação seu distante antecessor, o atual bispo de Digne, Dom Emmanuel Gobilliard, descobriu que François Melchior Charles Bienvenu de Miollis, tinha servido de inspiração para Victor Hugo.
Um descendente do Bispo Miollis escreveu em livro 1909 que fala de  “Jean Valjean existiu realmente em carne e osso. Era Pierre Maurin, condenado em 1801 a cinco anos de prisão. Miollis foi o bispo que o acolheu em sua casa”
Durante o seu ministério ao serviço da diocese de Digne, o bispo demonstrava uma energia prodigiosa. Como o recorda o mobiliário rudimentar do seu gabinete, sua doçura, a sua paciência, a sua humildade, a simplicidade do seu vestuário que utilizava para as suas viagens. Percorreu lugares íngremes onde nunca se tinha visto um báculo de um bispo.
Muitos artistas, escritores e poetas se apoderam de fatos reais para dá vida a sua arte. É comum a afirmação de que a arte imita a vida, o que é verdade. O mestre francês consolidou essa máxima, assim como fizeram outros autores franceses e os mestres da literatura russa, como brasileiros e ingleses, em suas épocas.
Ainda mais agora, mestre Milton Marques, retornarei à leitura deste imenso livro de Victor Hugo carregado de esperança de que a personagem do bispo Myriel inspire nosso corpo clerical a ser semelhante “ao pastor que não tinha onde recostar a cabeça”.
[Essa informação está texto de Charles de Pechpeyrou, no In , de 16.11.2023].

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